O que já sabemos e o que falta saber sobre a estirpe que está a preocupar a Europa
20-12-2020 - 20:42
 • Joana Azevedo Viana com agências

Onde foi detetada pela primeira vez? Quão mais agressiva ou perigosa é esta variante do SARS-CoV-2? Enquanto não há respostas para todas as questões, países europeus restringem ligações com o Reino Unido, onde a estirpe foi detetada pela primeira vez.

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O que já sabemos sobre esta variante?

A nova variante do SARS-CoV-2, o coronavírus que provoca a doença Covid-19, foi inicialmente detetada no sudeste de Inglaterra em setembro.

Em novembro, cerca de um quarto de todos os novos casos de infeção em Londres eram desta estirpe. O número subiu para dois terços do total de infeções diárias em meados de dezembro, altura em que o Governo britânico e a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciaram as informações já disponíveis sobre a variante de Covid-19.

Nesse dia, Mike Ryan, especialista em emergências da OMS, adiantou que "ainda nada sugere" que esta estirpe provoque casos mais graves de Covid-19 ou que ponha em causa a eficácia das vacinas já desenvolvidas e em distribuição, embora tenha confirmado que parece ser mais contagiosa.

Entretanto, o primeiro estudo científico preliminar sobre a estirpe identifica 17 mutações genéticas importantes no vírus, que os cientistas estão agora a analisar em mais detalhe.

Porque é que está a gerar mais preocupação?

O que mais preocupa as autoridades de saúde é a taxa de transmissão desta estirpe.

Tudo indica que a estirpe está a substituir rapidamente outras variantes do coronavírus e estudos preliminares em laboratório já demonstraram que algumas das mutações desta variante aumentam a capacidade de o vírus infetar mais células.

Quão mais rapidamente é que se propaga?

Os especialistas andam à volta com a matemática e a testar os números com diferentes variantes para tentar calcular quão mais rápido é que esta estirpe em particular se propaga.

Contudo, é difícil indicar um número quando tudo depende, não só mas também, do comportamento das pessoas no que toca ao distanciamento social e etiqueta higiénica, a começar pelo uso de máscara.

Num discurso há seis dias, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse que esta estirpe pode ser até 70% mais transmissível que as anteriores. Esse valor foi novamente apresentado por Erik Volz, investigador do Imperial College London, na sexta-feira.

"É demasiado cedo para dizer, mas do que vi até agora [esta estirpe] está a crescer extremamente rápido, mais rápido [do que a anterior] algum dia cresceu, é importante mantê-la debaixo de olho", indicou numa palestra.

Questionado pela BBC, Jonathan Ball, virologista da Universidade de Nottingham, diz que ainda há muitas dúvidas no ar.

"A quantidade de provas no domínio público é lamentavelmente inadequada para se formar opiniões fortes ou convictas sobre se esta variante é realmente muito mais transmissível."

Quão longe já chegou esta nova estirpe?

Ainda não se sabe se o paciente zero é um britânico ou se o primeiro caso foi importado de um país com menos capacidades para estudar e monitorizar as mutações do coronavírus no seu território.

O que se sabe é que, até agora, já foram confirmados casos de infeção por esta variante em todo o Reino Unido à exceção da Irlanda do Norte, embora a maioria esteja sobretudo concentrada em Londres, no sudeste e no leste de Inglaterra.

De acordo com dados da Nextstrain, que tem feito a monitorização dos códigos genéticos de amostras de SARS-CoV-2 de todo o mundo, já haverá casos de infeção desta estirpe na Dinamarca, na Austrália e na Holanda. Itália anunciou entretanto que também já diagnosticou infeções por esta variante de Covid-19.

Uma estirpe similar com muitas das mesmas mutações que esta emergiu entretanto na África do Sul, mas nada indica que os casos estejam relacionados.

Portugal não tem, para já, quaisquer casos ligados a esta nova variante de Covid-19, confirmou o Governo com base em dados do Instituto Ricardo Jorge.

Já houve mutações semelhantes?

Sim. A primeira variante do novo coronavírus originalmente detetada em Wuhan, na China, no final do ano passado, não é a mesma que está hoje disseminada pelos quatro cantos do mundo.

A mutação D614G, por exemplo, emergiu na Europa em fevereiro e tornou-se a estirpe dominante do coronavírus.

Uma outra mutação, A222V, que se propagou pela Europa, está ligada às férias do verão passado em Espanha, indica a BBC.

Esta estirpe é mais perigosa ou fatal?

Até agora nada indica que assim seja, embora tenha de se seguir todos os casos de perto para monitorizar a progressão do vírus com estas mutações.

Contudo, e apesar de não parecer provocar casos mais graves de Covid-19, o facto de ser mais transmissível que estirpes anteriores pode bastar para entupir os hospitais, sobretudo se não houver limites à circulação e contactos sociais e se as pessoas não adotarem comportamentos preventivos.

Se a nova estirpe infeta mais gente mais depressa, isto poderá traduzir-se em números mais elevados de internamentos em cuidados intensivos e cuidados continuados.

Quantos países já cortaram a circulação com o Reino Unido?

Pelo menos oito países anunciaram formalmente no domingo que iam suspender todos os voos e ligações ferroviárias, rodoviárias e marítimas com o Reino Unido já a partir de segunda-feira, incluindo França, Alemanha, Itália e Holanda.

A Suécia também prometeu para segunda-feira um anúncio formal da suspensão de voos de e para o Reino Unido.

Já Portugal anunciou não o cancelamento das ligações aéreas mas restrições a voos oriundos do território britânico: a partir desta segunda-feira, vai apenas permitir a entrada em território nacional de portugueses ou de residentes com teste negativo à Covid-19.