Alunos carenciados poderão entrar na universidade com médias mais baixas
31-03-2023 - 17:12
 • Pedro Mesquita , Teresa Paula Costa

Experiência-piloto, que arranca no próximo ano letivo, prevê que 2% das vagas dos cursos sejam reservadas para alunos do escalão A. Medida pretende combater "estratificação de base económica no acesso ao Ensino Superior" e está a ter adesão em massa das universidades.

No próximo ano letivo, as universidades portuguesas vão reservar 2% das suas vagas para estudantes do escalão A da ação social, numa iniciativa do Governo que vai também abranger os cursos mais procurados.

Com esta medida, os estudantes com menos recursos podem vir a entrar com médias de acesso mais baixas em cursos onde as médias são extremamente altas, como Medicina ou Engenharia.


Em entrevista à Renascença nesta sexta-feira, o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas confirmou que, nos cursos mais procurados e cujas notas de acesso são das mais elevadas, os estudantes do escalão A da ação social poderão vir a entrar com médias mais baixas.

A medida também poderá vir a diminuir o número de desistências no Ensino Superior, segundo António Sousa Pereira, que revelou que as universidades estão a aderir massivamente à proposta, tirando “um ou outro curso em que isso não se verifica".

Conheça as ideias-base deste projeto lançado pelo Governo, nesta entrevista ao presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, António Sousa Pereira.

No âmbito desta iniciativa, na prática, o que vai acontecer é que são reservados 2% das vagas para alunos do escalão A da açção social escolar, mas eles já tinham acesso à universidade. Qual é a grande vantagem agora?

O problema é que, quando nós olhámos para os cursos de mais elevada nota de acesso e de mais elevada competitividade, aquilo que constatámos é que a percentagem de alunos bolseiros nesses cursos é muito baixa, o que significa que há realmente uma estratificação de base económica no acesso ao Ensino Superior.

Não tanto pelas notas, mas pelas dificuldades económicas?

Há uma relação muito clara entre capacidade económica e entrada nos cursos de mais elevada competitividade.

E são cursos que têm, por regra, notas de acesso muito elevadas, como os de Medicina e Engenharia. Significa isso que estes 2% dos alunos com menores posses, e que queiram ir para o superior para um desses cursos mais procurados, vão poder entrar com notas mais baixas?

Por ventura nalguns casos, sim, no caso de serem cursos em que não entrava ninguém do escalão A da ação social. Neste caso, passarão a entrar 2% desse escalão.

Quais são as regras e como é que os alunos de menores posses podem candidatar-se?

Quem faz o processo de seleção é a Direção Geral do Ensino Superir. São eles os responsáveis por operacionalizar todo o processo e depois nós recebemos a lista de colocados e o que vamos fazer é, com certeza, monitorizar a evolução desses alunos dentro do sistema, de forma a tirar conclusões.

Há um elevado grau de desistências dos alunos mais carenciados, seja por causa do custo da habitação, ou outros, e os custos de frequentar a universidade não se limitam às propinas. O que é que vão tentar fazer para que isso não aconteça, ao longo desta experiência-piloto?

Estudar no ensino superior é dispendioso e, portanto, essa premissa é indiscutível. Mas os nossos estudos mostram que a taxa de desistência aumenta quando o curso em que o aluno está inscrito não é um curso da sua primeira opção e, portanto, se nós, com esta medida, conseguirmos que alunos carenciados entrem num curso que é sua primeira opção, isso vai contribuir para que diminuam as desistências.

Porque há uma maior satisfação, mas isso não chega para pagar um quarto e, como sabe, os quartos estão a preços impossíveis para toda a população.

Sim, estão exorbitantes, mas, provavelmente, quer os estudantes quer a família, estarão mais predispostos a fazer um sacrifício se estiverem a fazer um curso que corresponda àquele que é o seu maior desejo.