Quando nos confrontamos com o passado devastador provocado pelo fascismo e o comunismo, fazemos muitas vezes a pergunta: como foi possível? Em “The Whisperers”, Orlando Figes responde a uma variação mais precisa desta pergunta: como é que um operacional no terreno conseguia obedecer a uma ordem tão arbitrária como, por exemplo, “mata 126 pessoa na vila x”? Como é que nos anos 30, a URSS matou milhões e milhões de ucranianos através da grande fome? Porque é que a vida podia ter um valor tão baixo ou nulo na Rússia comunista?
Porque os operacionais no terreno faziam parte de uma geração que havia sido retirada às suas famílias, às suas casas. Cresceram sem a empatia concreta e familiar por pessoas concretas; idolatravam apenas uma ideia, um partido, uma vanguarda. Estas pessoas, os futuros assassinos, cresceram em armazéns do Estado, em casernas do partido, rodeadas por outras pessoas roubadas às suas famílias pelo Estado comunista. Sem pais, avós ou tios, eram educadas pelo partido para cumprirem ordens sem pestanejar. Na defesa da utopia do Homem Novo, a empatia pelos homens concretos, a começar na sua própria família, não existia. Ou seja, sem o treino da empatia dado pela família, torna-se muito mais fácil matar.
Este é o dia certo para se recordar a forma como a desumanidade máxima é praticada. E este livro é, sem dúvida, um dos melhores para compreendermos a frieza assassina de alguém que foi educado pelo KGB, a ex-polícia secreta dos comunistas russos, que de forma absolutamente abjeta continuam a ser defendidos pelo PCP.