Os diagnósticos na urgência do hospital de Setúbal estão comprometidos por falta de equipamentos. A denúncia foi feita esta manhã, na Comissão Parlamentar de Saúde pelo presidente do Conselho Regional Sul da Ordem dos Médicos.
“Perceber que um hospital desta dimensão não tem uma ressonância e apenas tem uma TAC faz perguntar exatamente que diagnóstico é que nós temos e como é que o fazemos na urgência. Sabendo, por exemplo, que o diagnóstico da pneumonia na Covid por TAC ocupava mais do que uma TAC na maior parte dos hospitais, o que significa que nós deixamos de ter equipamentos para as outras áreas”, afirmou Alexandre Lourenço.
A Comissão Parlamentar de Saúde está a ouvir, esta manhã, a Ordem dos Médicos e o responsável da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo "sobre os problemas sentidos no Centro Hospitalar de Setúbal", a requerimento do PSD.
O presidente do Conselho Regional Sul da Ordem dos Médicos disse ainda que faltam médicos em vários serviços do hospital de Setúbal e não há capacidade para formar.
“A anestesia perdeu 70% dos especialistas que formou e só tem dois blocos operatórios abertos. Ou seja, não tem capacidade – porque não tem médicos e blocos – para ensinar. O mesmo para a oncologia. Se tínhamos oito oncologistas num serviço, conseguíamos ter três ou quatro internos, em permanência, a trabalhar lá. A partir do momento que são só dois e estão assoberbados, não há capacidade. Também a obstetrícia precisava de 21 médicos. Tinha 11, reformaram-se este mês mais dois e saiu um outro do quadro, de 40 anos”, exemplificou.
No arranque dos trabalhos, Daniel Travancinha, da sub-região de Setúbal da Ordem dos Médicos, revelou como está a funcionar esta unidade.
“Das seis salas cirúrgicas do bloco operatório do hospital de Setúbal, só duas estão disponíveis diariamente para cirurgias programadas, por falta de anestesistas e outros profissionais de saúde, também enfermeiros e outros”.
“Existe um só oncologista em atividade e só até dezembro, por completar 70 anos. Esperam-se mais dois neste concurso, mas, sem certezas”, acrescentou.
Segundo Daniel Travancinha, “as escalas de urgência de genecologia/obstetrícia são realizadas na maioria nos dias por tarefeiros não do hospital e, ainda assim, com lacunas nas escalas com dias sem urgência, já no próximo mês”.
O médico referiu ainda que faltam equipamentos, nomeadamente “uma ressonância magnética”; “só existe um TAC” e o material de radiologia está “obsoleto”.
Um total de 87 médicos, entre membros da direção clínica, membros da direção de serviço e departamentos, coordenadores de unidade e comissões e ainda chefes de equipa de urgência que trabalhavam no Centro Hospitalar de Setúbal demitiram-se em bloco, no dia 6 de outubro, em solidariedade com o diretor demissionário clínico do Centro Hospitalar de Setúbal.
Em causa está aquilo que o diretor clínico daquela unidade disse ser a falta generalizada de condições de trabalho, desde a falta de espaços físicos proporcionais às necessidades de resposta do hospital à falta de equipamentos em várias unidades.