O Papa Francisco recorda neste dia de Natal, de forma especial, todas as crianças que são vítimas de bullying e de abusos.
Na sua tradicional mensagem “urbi et orbi”, latim para “para a cidade e para o mundo”, o Papa tem por hábito recordar os vários conflitos que continuam a causar vítimas e apelar à paz e ao diálogo. Este ano, contudo, fez uma referência específica à violência no seio das famílias.
“Filho de Deus, confortai as vítimas da violência contra as mulheres que grassa neste tempo de pandemia. Concedei esperança às crianças e adolescentes que são vítimas do bullying e de abusos. Dai consolação e carinho aos idosos, sobretudo aos mais abandonados. Proporcionai serenidade e unidade às famílias, lugar primário da educação e base do tecido social”, disse Francisco, a partir de São Pedro, em Roma.
A Covid-19 voltou a marcar assim o discurso do Papa, que pediu também generosidade à comunidade internacional na partilha de vacinas. “Deus-connosco, concedei saúde aos doentes e inspirai todas as pessoas de boa vontade a encontrar as soluções mais adequadas para superar a crise sanitária e as suas consequências. Tornai generosos os corações, para fazerem chegar os tratamentos necessários, especialmente as vacinas, às populações mais necessitadas. Recompensai todos aqueles que mostram solicitude e dedicação no cuidado dos familiares, dos doentes e dos mais fragilizados.”
Atenção especial mereceu ainda a situação da Terra Santa, com Francisco a apelar à concórdia entre israelitas e palestinianos, mas sobretudo a Belém, “o lugar onde Jesus viu a luz e que vive tempos difíceis inclusivamente pelas dificuldades económicas devidas à pandemia que impede os peregrinos de chegarem à Terra Santa”.
O Médio Oriente concentra grande parte da atenção desta mensagem do Papa, que fez ainda referências diretas ao Líbano, que atravessa uma grave crise social, política e financeira; à Síria, em situação de guerra civil há mais de uma década; ao Iraque, “que luta ainda para se levantar depois de um longo conflito” e ao Iémen, onde Francisco pede que se ouça “o grito das crianças”, vítimas maiores de uma “tragédia enorme, esquecida por todos”.
O Papa refere ainda o Mianmar, ainda a viver as consequências de um golpe militar contestado pela população e o Afeganistão, onde após 20 anos de guerrilha o poder foi tomado pelos talibãs. A Etiópia, onde um conflito sangrento veio desestabilizar um dos maiores casos de sucesso no continente africano nos últimos anos, e o Sudão e Sudão do Sul, são mencionados ainda no discurso que, na Europa, aponta um foco sobre a Ucrânia, onde têm aumentado as tensões com a Rússia, levando o Papa a pedir a Jesus que “não permitais que se espalhem as metástases de um conflito gangrenado”.
Os apelos ao diálogo, insiste Francisco, são especialmente importantes neste tempo de pandemia. “Apercebemo-nos ainda melhor disso neste tempo de pandemia. A nossa capacidade de relações sociais é duramente posta à prova; aumenta a tendência para fechar-se, arranjar-se sozinho, renunciar a sair, a encontrar-se, a fazer as coisas juntos. E, mesmo a nível internacional, corre-se o risco de não querer dialogar, o risco de que a complexidade da crise induza a optar por atalhos em vez dos caminhos mais longos do diálogo; mas, na realidade, só estes conduzem à solução dos conflitos e a benefícios partilhados e duradouros”, disse o Papa que, nesta sua mensagem, não esqueceu os refugiados e todos os que se vêem obrigados a sair das suas terras por causa da violência e da guerra.
No final, contudo, reina a esperança no Natal, diz Francisco. "Queridos irmãos e irmãs, muitas são as dificuldades do nosso tempo, mas a esperança é mais forte, porque 'um menino nasceu para nós' (Is 9, 5). Ele é a Palavra de Deus que Se fez 'in-fante', capaz apenas de chorar e necessitado de tudo. Quis aprender a falar, como qualquer criança, para que nós aprendêssemos a escutar Deus, nosso Pai, a escutar-nos uns aos outros e a dialogar como irmãos e irmãs. Ó Cristo, nascido para nós, ensinai-nos a caminhar convosco pelas sendas da paz. Feliz Natal para todos!"
No final da leitura da mensagem o Papa concedeu a sua bênção e foi anunciada uma indulgência plenária para todos os que assistiam à mensagem, quer em direto, quer através dos meios audiovisuais.