Recentemente, chegaram notícias de Cabo Delgado informando que militares do Ruanda e militares moçambicanos, atuando em coordenação, teriam conseguido afastar os terroristas islâmicos de Mocimboa da Praia, cidade daquele distrito de Moçambique que no ano passado caíra nas mãos dos jiahdistas. Parece ter sido o primeiro revés significativo dos terroristas do Estado Islâmico (Daesh) no Norte de Moçambique.
Os ataques terroristas já provocaram mais de três mil mortos e 800 mil deslocados naquela região. Os ataques começaram em 2017 e a reação do Estado moçambicano foi débil. No extremo norte de Moçambique estava em curso um grande projeto de prospecção de gás natural, liderado pela multinacional francesa Total. Perante a incapacidade para deter os terroristas, o projeto foi suspenso, não se sabendo quando será retomado. É um projeto no qual as autoridades moçambicanas depositam grandes esperanças.
O Norte de Moçambique é mais uma região africana onde o terrorismo do Daesh se faz sentir, sobretudo nos últimos seis meses. A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) aprovou em junho o envio de soldados para aquela zona, mas o presidente moçambicano Filipe Nyusi preferiu, para já, avançar militarmente juntando-se a forças do Ruanda. Estas forças serão altamente disciplinadas e competentes.
As forças da SADC integram militares de Angola, Botswana e Zimbabué, entre outros. Irão colaborar com os militares do Ruanda? É mais uma dúvida.
Um correspondente do semanário “The Economist” levantou a hipótese de a recente expulsão dos terroristas de Mocimboa da Praia ter ficado a dever-se a um recuo tático desses jiahdistas para refúgios no interior da floresta. Ao certo, não sabemos.
Como não sabemos até que ponto atuações do exército moçambicano em Cabo Delgado terão hostilizado as populações locais durante os últimos quatro anos. Existem indícios nesse sentido, quando a prioridade deveria ser a proteção daquelas populações.
É evidente que o exército de Moçambique precisa de ser mais eficaz. Portugal lidera uma missão da UE para treinar militares moçambicanos, que em breve irá para o terreno. Mas os resultados desta iniciativa só a prazo serão visíveis.
Clara é a aposta de F. Nyusi em não deixar morrer o projeto de gás natural. Mas será que de tal projeto virão benefícios para a martirizada população de Cabo Delgado? O correspondente do “Economist” não está certo de que tal aconteça.