Um ano após a inauguração do Eixo Central de Lisboa há prós e contras que continuam a ser debatidos. Uma obra orçada em 7,5 milhões de euros, que reduziu faixas de rodagem, aumentou passeios e criou muitos metros de ciclovias.
Os moradores reconhecem que o espaço está bonito, mas lembram que ao fim de um ano faltam ainda cumprir promessas que a Câmara de Lisboa deu na altura da inauguração.
O presidente da Associação de Moradores das Avenidas Novas começa pela questão do estacionamento. “Continuamos à espera que a Câmara Municipal de Lisboa devolva aos moradores, em bolsa de zona para residentes, que foi prometido. Continuamos à espera dos cerca de 60 a 70% dos lugares à superfície, que sejam consignados para bolsa de moradores. Não nos podemos esquecer que a Câmara reduziu só entre a Praça Duque de Saldanha e Entrecampos mais de 200 lugares de estacionamento. As pessoas que moram em Lisboa precisam de lugares para estacionar os seus carros”, afirma José Filipe Soares.
Um dos objectivos principais do executivo de Fernando Medina era, com esta obra, retirar carros do centro da cidade, dando mais espaço aos peões e bicicletas. Para José Filipe Soares esse objectivo não foi cumprido.
“Hoje em dia é muito comum termos horas de ponta ao meio-dia, à uma da tarde e às três, fruto, primeiro, de um afunilamento do trânsito que foi feito com vista a reduzir a entrada de carros em Lisboa. Foi um dos objectivos do Eixo Central que não conseguiu.”
Perante este problema, longe de estar resolvido, o presidente da Associação de Moradores das Avenidas Novas sublinha a necessidade de haver um consenso alargado com os outros municípios da área metropolitana de Lisboa. “Se nós queremos planear a mobilidade e se queremos retirar carros de Lisboa temos de começar pela fonte, temos de começar de onde eles vêm. Eles vêm de Cascais, Sintra, Oeiras, Amadora, Loures e Margem Sul. Nós temos de sentar à mesma mesa toda a gente e de uma vez por todas assumirmos que há um problema do qual Lisboa está a sofrer, porque entram na cidade todos os dias cerca de 300 mil carros. É um facto de que o eixo central está mais bonito, mas também está mais poluído.”
Obra veio repor equilíbrio que faltava
Nem todos estão contra o Eixo Central. É o caso dos ciclistas que ganharam mais espaço com as intervenções feitas.
Para Ricardo Ferreira da Mobi – Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta - a obra trouxe mais justiça na distribuição do espaço público. “A Avenida da República era um bom exemplo do que era Lisboa há menos de 10 anos, uma cidade com 70 a 80% do espaço dedicado à deslocação em automóvel. O que foi feito com esta obra foi repor um pouco do equilibro que tanto faltava”, sublinha.
“Eu sei que há uns contadores, não tenho números oficiais, mas qualquer pessoa que observe com honestidade o fluxo de ciclistas, sobretudo naquelas horas de movimentos pendulares vê que há muito mais gente a passar ali de bicicleta. Vêem-se pais com crianças, cenas que antes desta obra eram impensáveis nesta artéria”, remata.