O Brasil não vive uma pandemia, mas sim três pandemias em simultâneo, na perspetiva de Alfredo Gonçalves, padre português, missionário scalabriano, congregação que se dedica ao trabalho com as migrações, e assessor para a mobilidade humana da Conferência Episcopal Brasileira.
“Nós estamos, na verdade, a atravessar três pandemias simultâneas”, afirma o sacerdote à Renascença. “Tem a pandemia propriamente dita, tem a pandemia económica e social, que todos os países estão a passar, e temos ainda a pandemia que se chama ‘presidente Jair Bolsonaro’, que é uma pandemia muito séria.”
O padre Alfredo Gonçalves soma 50 anos de Brasil e afirma que, neste momento, a instabilidade no país é alimentada pelo próprio Governo federal. “Corre um inquérito no supremo tribunal federal contra Bolsonaro e no congresso nacional existem 32 pedidos de impeachment do presidente”, lembra.
O sacerdote garante que no Brasil “não faltam exemplos no sentido de demonstrar que a pandemia é séria”.
“As autoridades e a ciência a nível mundial mostram que é preciso levar a sério tudo isso”, mas “o Governo continua divulgando o uso da cloroquina, pressionando para que tudo volte ao normal, pressionando as empresas contra os governadores que são os que têm a decisão de abertura ou de isolamento”.
"O governo federal continua na contramão, continua pressionando para que tudo se acabe, para que tudo volte ao normal. É o discurso do negacionismo”, acusa o missionário português.
Regresso das celebrações comunitárias ainda sem data
No Brasil, um dos países da América do Sul que concentra maior preocupação face ao alastrar da pandemia, ainda não há data para o regresso das celebrações comunitárias.
Por agora, a Conferência Episcopal Brasileira continua, de acordo com o padre Alfredo Gonçalves, "muita afinada" com as indicações da Organização Mundial de Saúde. O sacerdote lembra que as igrejas continuam fechadas e que a Conferência Episcopal "está ao lado das autoridades de saúde e o povo também”.
Para incentivar a prevenção, a maior estátua católica do mundo está, desde a última semana, a usar máscara. Representa Santa Rita de Cássia e situa-se num santuário no interior do Nordeste do Brasil, no estado do Rio Grande do Norte.
“É mais um exemplo para demonstrar que a pandemia é muito séria, apesar de o Governo de Bolsonaro continuar a negar a gravidade da situação”, remata Alfredo Gonçalves.