Soube-se na quarta-feira que a atual administração da TAP tinha solicitado uma auditoria, por suspeitar que estaria a pagar pelos aviões encomendados por um anterior acionista (David Neeleman) mais do que os concorrentes da empresa pagavam. A auditoria foi realizada; o ministro Pedro Nuno Santos referiu dúvidas levantadas pelas suas conclusões; o Governo decidiu enviar a auditoria para o Ministério Público.
É um caminho pouco habitual para avaliar se a TAP foi prejudicada pela venda de aviões realizada por um ex-acionista. Mas a gestão da TAP tem por vezes gestos pouco habituais. Basta lembrar a recente compra de dezenas de automóveis topo de gama destinados a administradores e quadros superiores da empresa – compra que pouparia muito dinheiro à TAP, segundo a sua administração, mas que foi logo abortada quando se levantaram protestos.
À administração da TAP e aos seus trabalhadores cabe a tarefa difícil de redimensionar a empresa, cujo capital deverá ser vendido a privados nos próximos doze meses, segundo o primeiro-ministro. Diz agora o Governo que, para sobreviver como companhia “de bandeira”, a TAP terá de se integrar num grupo internacional de aviação.
Ora isto é o que se ouvia dizer há muitos anos atrás. Não parece que, entretanto, tenham surgido potenciais interessados em absorver a TAP – e que não viessem abolir uma série de voos da empresa vitais, por exemplo, para os Açores, incluindo o Pico. Ou permitissem um serviço razoável a partir do aeroporto do Porto.
Continuam, assim, a existir dúvidas sérias sobre se têm justificação os 3,2 mil milhões de euros de dinheiro dos contribuintes que estão a financiar a reestruturação da TAP, sendo que a empresa ainda dá prejuízo.
Depois há aquele passado, no tempo da “geringonça”, quando o PS terá prometido ao PCP e ao Bloco de Esquerda que iria cancelar a venda da TAP. Nessa altura, como escreveu o diretor do Público, Manuel Carvalho, “toda a intervenção do Governo nos destinos da TAP partiu do princípio ideológico de que o controlo do Estado era fundamental para defender o seu papel estratégico para o país”.
Quando mais recentemente o Governo do PS nacionalizou de novo a TAP, fê-lo apenas para evitar a falência da companhia. Desde 2020, diz o ministro Pedro Nuno Santos, é objetivo do Governo privatizar a TAP.
No fundo, trata-se de saber se a TAP será viável depois de perder os mercados protegidos nas ex-colónias. Ora já passou quase meio século desde a descolonização. E, em concreto, pouco ou nada se avançou. A indecisão não predomina apenas quanto à localização do futuro aeroporto de Lisboa.