A S317 Consulting – uma empresa portuguesa de consultoria na área da energia e da água, com foco internacional – tinha uma vaga para preencher. Atendendo "à crise humanitária" que se vive no Afeganistão, decidiu "dar um futuro" a uma engenheira do país do Médio Oriente, conta Filipe Vasconcelos, fundador da empresa, à Renascença.
Em poucos dias, tiveram seis respostas e fizeram um processo de seleção e recrutamento "muito rápido". Escolheram "Samira" (o nome é ficcional para proteger a candidata), uma habitante de Cabul.
"Ela não é um caso isolado. Outra empresa, da área da tecnologia da informação, também tem alguém selecionado para integrar a sua equipa", revela.
O fundador da S317 Consulting conta que o contrato "já está fechado", mas, apesar de ter contactado antecipadamente o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), as respostas tardaram em chegar.
Três dias após a contratação da engenheira afegã ter sido fechada, a S317 Consulting recebeu, esta segunda-feira, resposta da embaixada de Portugal em Islamabad (Paquistão), que gere as relações portuguesas e afegãs, e do gabinete do MNE, afirmando que o caso foi encaminhado para o Alto Comissariado para as Migrações.
"Estão a recolher as intenções de diferentes entidades e os perfis de potenciais migrantes que venham para Portugal. É uma resposta que assegura que o MNE tem conhecimento desta situação, mas não nos dá qualquer indicação do ponto de vista operacional", aponta Filipe Vasconcelos.
"Temos o contrato já assinado e precisamos de apoio diplomático para fazer chegar a Samira a Portugal. Visto de trabalho, visto humanitário, etc... O que for necessário para que ela chegue ao nosso país e como é que lhe vai chegar às mãos, em Cabul", explica.
O fundador da S317 Consulting compreende a dificuldade diplomática do caso, mas pensa que esta iniciativa, e outras semelhantes, devem ser apoiadas pelo Estado.
"Estamos a dar um acolhimento humanitário e um futuro profissional. Estamos a partir de uma necessidade profissional para cobrir necessidades humanitárias e sociais que existem no Afeganistão. Deve haver canais mais ágeis do MNE, que possam dar uma resposta operacional mais assertiva", defende.
Filipe Vasconcelos alerta ainda que todas as candidatas transmitiram "não sentirem que têm futuro" e que a única alternativa, para várias mulheres afegãs, é sair do país.
"O que nós podemos oferecer é um bom acolhimento enquanto país e dar também uma alternativa de futuro profissional", considera.