O grupo ativista Climáximo perturbou esta segunda-feira o funcionamento do Aeroporto Humberto Delgado, com protestos contra o projeto do novo aeroporto de Lisboa. Pelo menos três pessoas foram detidas.
Apoiantes do grupo atiraram tinta vermelha para o átrio do Aeroporto de Lisboa, e exibiram uma faixa onde se lia "Novo Aeroporto: Colapso Climático". Em causa está a construção de um novo aeroporto em Lisboa, devido aos riscos ambientais associados ao aumento da aviação.
Dois ativistas também pintaram as cancelas que levam às portas de embarque, atrasando o trânsito de passageiros a caminho dos seus voos.
Num comunicado divulgado pela Climáximo, é indicado que, segundo a rede global Stay Grounded, é necessário uma redução em mais de 90% da aviação. O coletivo pretende "denunciar os planos de construção de um novo aeroporto em Lisboa, a expansão deste e/ou a sua deslocação para outro local como um ato de guerra", e promover a discussão sobre como reduzir a aviação para o mínimo essencial de forma justa, o único plano compatível com travar o colapso climático."
Uma das ativistas, Inês Teles, afirma em comunicado que "existe um consenso generalizado no debate público e entre os partidos que concorrem às eleições que definir a localização do novo aeroporto de Lisboa é uma prioridade máxima da próxima legislatura. Isto só torna clara a hipocrisia total dos partidos que dizem levar a sério a crise climática mas que continuam 100% comprometidos com novos projetos de morte." Afirma ainda que "ao fim de 50 anos, a resposta ao debate absurdo sobre a localização do novo aeroporto só pode ser uma: no caixote de lixo da história."
"No ano passado, o aeroporto de Lisboa movimentou 33,6 milhões passageiros, ultrapassando o recorde pré-COVID e atingindo um valor quase sete vezes superior ao registado em 1990," relembra Inês. "A normalidade do sistema vigente, que não é contestada de forma séria por nenhum partido nestas eleições, projeta um crescimento do número de passageiros, atingindo 85 milhões em 2050. A monstruosidade deste número não deixa lugar a dúvidas: isto é uma declaração de guerra contra a vida e põe de parte qualquer hipótese de cumprimento dos cortes de emissões necessários para parar o colapso, pois a única forma realística de cortar emissões na aviação é reduzir o número de voos."
O plano de transição proposto pelo Climáximo passa por "cortar de imediato os voos supérfluos, como os de jato privado, os voos de curta distância (ex: Lisboa - Porto) e os voos noturnos; dar prioridade aos voos de acordo com a necessidade, como por exemplo, para emergências humanitárias ou quando não houver nenhum método de transporte alternativo, assim como desenvolver amplamente e tornar acessíveis as ligações ferroviárias e requalificar os trabalhadores do setor aéreo são algumas das propostas do coletivo por justiça climática."
"Temos que esquecer a ilusão de que a aviação é uma necessidade básica. Metade das emissões deste setor são produzidas pelos 1% mais ricos do mundo, enquanto 80% nunca voou sequer. O que é básico é defender a vida contra os interesses destrutivos do lucro e transitar do meio de transporte mais desigual que existe para transportes terrestres movidos a energia limpa e acessíveis a todas as pessoas," afirma Inês.
O Climáximo denuncia que nenhum dos partidos candidatos às eleições legislativas apresenta "soluções reais para travar o colapso climático", afirmando que, sejam quais forem os resultados no próximo 10 de março, "o novo Governo irá continuar em guerra contra a vida".