A Cáritas Portuguesa pede ao Governo que dê mais atenção ao mercado laboral, de modo a resolver o problema da pobreza, que ainda atinge muitos jovens portugueses.
Na Manhã da Renascença, Eugénio Fonseca, presidente da instituição, enumera as principais medidas a tomar.
- Uma “vigilância mais apertada” por parte do Estado “no sentido das condições de trabalho que são fornecidas aos jovens”
- Melhorar os salários. “É uma questão de distribuição de rendimentos. Porque se a lógica continua a ser mais produtividade para maior lucro e depois a distribuição do lucro produzido não tem expressão naquilo que é a distribuição por aqueles que produzem essa mesma riqueza, será difícil conseguirmos esses salários dignos”.
- Escolaridade. “A proposta é que haja investimento para uma maior atratividade dos jovens ao ensino formal e a condição de poder ter acesso à formação mesmo no sistema informal”.
- Salários proporcionais à escolaridade – “o tal investimento inicial”. Em Portugal, “há hoje jovens que têm que esconder as suas qualificações para poderem ter acesso ao mercado de trabalho”, ao mesmo tempo que a OCDE recomenda, para o país, “mais licenciados, mais doutorados”.
- Maior fiscalização dos recibos verdes, “outra área em que se abusa bastante”.
O presidente da Cáritas Portuguesa comentava assim o relatório que é divulgado esta terça-feira e que tem como título “Os jovens na Europa precisam de um futuro”.
Segundo o documento, “as políticas adotadas nos últimos 10 anos não conseguiram quebrar ciclos de pobreza geracional” e “os jovens são confrontados com situações de desemprego, empregos precários, contratos irregulares e baixos salários”, o que torna "muito difícil" um jovem conseguir suportar os custos de habitação.
A crise não passou
Eugénio Fonseca reconhece que “há um crescimento económico em Portugal” e “dados favoráveis, nomeadamente, ao nível do PIB”, mas sublinha que “a crise não passou e não passou para uma boa parte da população portuguesa, onde podemos situar os mais vulneráveis”, entre os quais “os jovens, mas também uma classe média e média/baixa – estas duas sobretudo – que ainda não estão a sentir no concreto os efeitos deste crescimento económico”.
A contribuir para a dificuldade em superar as dificuldades está a baixa natalidade. “Quando foi o tempo da crise, nós apontávamos as questões que eram na altura mais emergentes, mas no fundo a baixa da natalidade e o envelhecimento é um desafio enorme que temos que enfrentar”, admite o presidente da Cáritas.
“Se continuarmos com as condições que temos relativamente ao envelhecimento, vamos ter problemas de produtividade, de sustentabilidade dos sistemas de proteção social e de saúde, etc. e há que enfrentar tudo isso e não haver uma atitude de resignação, como muitas vezes parece”, alerta Eugénio Fonseca na Manhã da Renascença.