O envelhecimento da população é irreversível e vai diminuir o crescimento da zona euro em um terço. Segundo o especialista Axel Börsch-Supan, já não há resolução, só podemos reduzir o impacto na economia.
O economista e diretor do Centro de Munique para a Economia do Envelhecimento, elaborou um estudo em que defende que nem a migração nem um “baby boom” inesperado resolviam agora o envelhecimento, que vai mudar a economia na Europa, muito para além do que tem sido discutido.
As alterações demográficas são já dramáticas, defende este estudo, e vão afetar profundamente a economia, não só ao nível do trabalho, mas também das finanças e do comércio. Axel Börsch-Supan diz que a economia nunca mais será a mesma e sublinha que a discussão se tem concentrado nos efeitos sobre os sistemas de pensões e no mercado laboral, mas a proporção do que aí vem é bem maior.
“Não será um fenómeno temporário, qualquer tipo de política que tente escavar um túnel sob a montanha demográfica vai falhar, nunca chegará a ver a luz ao fundo. Nem através de um grandioso fundo demográfico, nem mesmo com o financiamento dos sistemas de pensões através do aumento da dívida, nunca vão conseguir pagá-la”, diz.
Uma das soluções mais defendidas ultimamente, inclusive pelo Governo português, é o reforço da migração. No entanto, o diretor do Centro de Munique para a Economia do Envelhecimento diz que a quantidade de pessoas necessárias faz com que isso seja impraticável e dá como exemplo a Alemanha, onde admite apenas algum impacto.
“Faz diferença, mas é pequena. Obviamente, se a migração for massiva, e estamos a falar de jovens, então podemos diminuir a dependência sobre os trabalhadores mais velhos, mas temos que olhar para os números. Para achatar a curva a média de migração necessária nos próximos 40 anos é preciso 1,2 milhões de migrantes por ano. É mais do que a Alemanha recebeu em 2015 e é apenas a média, o pico seria de 2,1 milhões. Está por isso fora de questão que a migração vá resolver o envelhecimento populacional.”
Nem com “baby-boom”
Outra hipótese avançada é esperar o aumento da natalidade. Os Governos continuam a apostar em políticas de incentivo, mas seria necessário que nascessem mais de dois bebés por cada habitante e, ainda assim, não resolvia o problema: “Mesmo que houvesse um ‘baby boom’ agora, ia levar 20 anos até que entrassem no mercado de trabalho. Por isso, não ajuda com o envelhecimento atual. E mesmo a longo prazo, com uma taxa de fertilidade maior, ia travar o envelhecimento, mas os mais velhos continuam em maioria.”
Qualquer medida é melhor que nenhuma, reconhece o economista, e se forem combinadas num pacote, como adiar a idade da reforma, pôr os jovens a trabalhar mais cedo e mais mulheres no ativo, podem travar o envelhecimento, mas haverá sempre medidas que vão desfazer os resultados obtidos, como a reação do mercado de trabalho e dos agentes económicos.
Os países têm que ser ousados, acredita Axel Börsch-Supan. “O envelhecimento afeta cerca de um terço do crescimento da zona euro, mas o balanço ainda é positivo. Há forças endógenas que podem acomodar este impacto, mas estes ajustes automáticos só acontecem se permitirmos a digitalização, mais capital intensivo e liberdade de capitais, dentro e fora da zona euro, sendo que essa é que é a grande questão.”
“Mais reformas estruturais podem resolver o resto, mas vai haver uma reação forte”, conclui.
Um cenário que não deixa espaço para crises comerciais, fronteiras ou entraves à robotização e inteligência artificial, isto se os governos quiserem dar a volta por cima ao envelhecimento da população.