O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, volta a publicar a análise macroeconómica, agora, sobre o mercado de trabalho europeu e as expectativas no qual deixou vários avisos, sobre aumentos salariais e riscos de uma contração excessiva.
Num comunicado em inglês, assinado por Mário Centeno e publicado no site do Banco de Portugal, o governador analisa o mercado laboral nos países do euro.
"Elogio ao mercado de trabalho da zona euro: estamos a fazer melhor" (“Praise to the euro area labor market: we are doing it better”) olha para as últimas décadas e, em particular, para as respostas à pandemia e à crise inflacionista, apontando o que esperar a seguir.
Sem se centrar no caso português, Centeno defende uma política salarial prudente. “A cautela deve presidir aos aumentos salariais, que devem ser guiados pelos ganhos de produtividade, tal como observado nos últimos 35 anos.”
Nestas quatro páginas Mário Centeno avisa ainda que a contração em excesso "é incompatível" com aspirações dos trabalhadores. Para o governador, há “poucas razões” para antecipar espirais inflacionistas na zona euro, alimentadas pelos salários. Ainda assim, é preciso proteger o emprego.
“Na Europa, o mercado de trabalho tem funcionado como uma proteção, escudando os rendimentos face aos impactos imprevisíveis dos choques exogéneos. Contudo, a Zona Euro parou de crescer há um ano. Se não fosse o emprego, a inflação e a estagnação teriam resultado em estagflação“, alerta.
Mário Centeno acredita que as economias europeias só escaparam à estagflação porque as empresas interpretaram “corretamente” a inflação como um "fenómeno temporário".
O governador diz que há quatro razões para este desfecho: a “credibilidade do Banco Central Europeu”, que conseguiu “ancorar as expetativas de inflação”; a inflação dever-se a problemas do lado da oferta, que levou à “redução imediata” das subidas de preços “mal se dissiparam os choques na oferta”; a “políticas fiscais que evitaram posturas abertamente expansionistas, com pressões subsequentes na procura”; e a “um mercado de trabalho mais flexível e móvel”.
Mas "a complacência é injustificada", avisa, referindo que as políticas deverão continuar a perseguir a estabilização. Centeno apela ainda à paciência aos decisores políticos: “Devemos permanecer, assim, fiéis aos princípios de reconhecer os dados, reportar as conclusões, e reagir apenas se, mas sempre que, necessário“. Segundo o governador, “o mercado de trabalho permanece o maior ativo da área do euro e deve ser preservado”.
Centeno conclui referindo que “o sucesso de uma economia não é medido apenas através do seu desempenho geral, mas também pelo sucesso dos que têm fraca inclusão ou dos que estão excluídos. Agir nas margens é essencial”.