A espiral salários-preços, um mecanismo no qual a inflação alimenta o aumento dos salários que, por sua vez, alimenta o aumento dos preço, é por enquanto um risco limitado. Os preços e os salários estão a subir, mas a estagnação ou a descida do valor dos salários ainda é considerada normal.
Agora, está tudo nas
mãos dos bancos centrais e só uma resposta rápida por parte das autoridades
monetárias pode evitar a entrada das economias mundiais nesta espiral
salários-preços, definida como “um episódio de vários trimestres, em que tanto
os salários como a inflação aumentam simultaneamente”.
A análise é avançada no capítulo publicado esta quarta-feira do World Economic Outlook de Outono, no qual, para apurar a existência deste risco, o relatório analisou episódios semelhantes nos últimos 50 anos, e conclui em regra não se registou uma espiral de salários-preços.
Segundo a análise, “esses episódios não tendem a ser seguidos por uma espiral salários-preços”, já que “em média, a inflação acabou por cair de forma gradual e os salários nominais recuperaram terreno ao longo de vários trimestres”. No entanto, “em alguns casos, a inflação manteve-se elevada durante algum tempo”.
De acordo com o FMI, a espiral ainda não se concretizou devido à combinação de três fatores: os choques inflacionistas permanecem externos ao mercado de trabalho, a queda dos salários reais ajuda a reduzir a inflação e à ação resoluta dos bancos centrais.
Embora se observem alguns aumentos salariais, são sobretudo reflexo de um desemprego particularmente baixo em alguns países, como os Estados Unidos, onde a falta de mão de obra leva os empregadores a oferecer uma remuneração mais atraente para atrair funcionários.
O FMI salienta que se registaram até aumentos graduais de salários após o choque inflacionista, com o objetivo de aproximar os salários reais do nível anterior.
A instituição realça, no entanto, que a ausência de uma espiral preços-salários não deve levar os líderes a não agirem para combater a inflação persistente.
É necessário evitar, estima a organização, que as antecipações de inflação que se avizinham levem os trabalhadores a exigirem aumentos salariais ainda mais fortes, de forma a integrarem a subida esperada dos preços.
O FMI alerta para a necessidade de uma resposta decisiva dos bancos centrais, que trave a inflação, através das atuais subidas fortes das taxas de juro. Só com estas medidas “o risco de uma espiral salários-preços persistente surgir no atual episódio é contido”, refere ainda o relatório.