Centenas de malianos manifestaram-se esta terça-feira, em Bamako, em apoio à junta militar, no meio de uma disputa sobre o regresso dos civis ao poder, após o golpe de Estado de 18 de agosto, noticia a agência AFP.
Os participantes responderam ao apelo do MP4 (Movimento Popular de 4 de Setembro), uma nova formação de apoio aos coronéis no poder, numa altura em que os malianos estão a dividir-se sobre se é um militar ou um civil que deve liderar a transição, supostamente para trazer os civis de volta à liderança do país, e quanto tempo deve durar este período de transição.
"Queremos que o Exército se mantenha no poder durante o tempo que for necessário. Porque não três anos, até ao final do mandato do antigo presidente IBK", disse Hamza Sangare, um comerciante de 40 anos, no meio da multidão de manifestantes e do barulho das vuvuzelas, referindo-se a Ibrahim Boubacar Keïta, que foi derrubado pelos militares a 18 de agosto.
Desde o início, os militares prometeram devolver as ordens aos civis no final de um período de transição a ser determinado. Falaram inicialmente em três anos (correspondentes ao final do mandato presidencial), sob a liderança de um oficial militar.
Mas depararam-se com a recusa dos vizinhos da África Ocidental e lançaram consultas com as partes e a sociedade civil sobre a implementação desta transição.
Após o acolhimento dado ao golpe de Estado pelos malianos - exasperados por anos de guerra com os jihadistas, violência intercomunitária e estagnação económica - estas consultas salientaram a dificuldade em conciliar as agendas dos militares, dos antigos grupos rebeldes do norte e do chamado Movimento 5-Junho.
Durante meses, o Movimento 5-Junho liderou o protesto contra o antigo presidente, até os militares o deporem. Exige agora um papel preponderante na transição.
"Os militares, os militares", cantava um animador para motivar os manifestantes, que debaixo de um sol escaldante exibiam a bandeira nacional, retratos do chefe da junta, o coronel Assimi Goita, e cartazes onde se lia "Viva o exército".
Dezenas dos pequenos autocarros típicos de Bamako, normalmente utilizados como transportes públicos, foram mobilizados para transportar os manifestantes à Praça da Independência, o ponto alto de protesto perante o golpe de Estado.
Os apoiantes de uma longa transição confiada aos militares argumentam com o tempo e autoridade necessários para criar as condições de recuperação, num país muitas vezes descrito como estando à beira do colapso.
Por seu lado, outros apontam para o risco de uma instabilidade ainda maior num Sahel já atingido por ações jihadistas, e o mau exemplo regional dado por uma junta que se manteve no poder durante muito tempo.
Na segunda-feira, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que exige o regresso dos civis após um período máximo de 12 meses, deu aos militares até 15 de setembro para nomear um Presidente e um primeiro-ministro civis para a transição.
Na sequência do golpe de Estado de 18 de agosto, o então Presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, e vários responsáveis do seu Governo foram detidos e posteriormente libertados, após mediação da CEDEAO.
O ex-presidente deixou Bamako na noite de sábado a bordo de um voo especial alegadamente para receber tratamento no estrangeiro, mas fontes ligadas à junta militar no poder asseguram que a CEDEAO defende o regresso ao Mali de Ibrahim Boubacar Keita caso a justiça e segurança do país o exijam.
A junta militar, que se autodesignou Comité Nacional para a Salvação do Povo, está a promover consultas com diversas formações políticas civis do país para preparar o processo de transição.
Além da instabilidade política, o Mali regista uma situação de violência intercomunitária e de frequentes ataques 'jihadistas' contra o exército maliano e as forças estrangeiras, incluindo francesas, destacadas em extensas zonas do centro e norte do país.