Rita Sacramento Monteiro, 33 anos, é gestora de voluntariado corporativo e colabora com a ACEGE Next - a estrutura mais jovem da Associação Cristã de Empresários e Gestores - na preparação do encontro ‘A Economia de Francisco’, que o Papa convocou para Assis com estudantes e jovens economistas de todo o mundo, incluindo 50 portugueses.
Por causa da pandemia de Covid-19 o evento foi adiado de março para novembro, e soube-se há dias que não poderá decorrer de forma presencial, mas apenas através dos meios digitais. Rita não acredita que isso vá empobrecer a reflexão.
“Eu acho que o maior desafio vai ser do ponto de vista de organização digital, como é que vamos organizar-nos em grupo e gerir um evento destes tão grande, com tanta gente, mas acho que a discussão vai ser rica na mesma”, diz à Renascença esta responsável que fez o primeiro curso de preparação para o encontro (de setembro de 2019 a maio de 2020), e está envolvida no segundo módulo que a ACEGE Next lançou em junho e se prolonga até novembro, com várias sessões previstas, a próxima já esta semana. “Dia 16 de setembro vamos estar a olhar para o tema da energia e da pobreza. Há ainda muitas pessoas no mundo sem acesso à energia, portanto este é um tema bastante importante”, adianta.
Em cada sessão, por Zoom, os participantes estão divididos por grupo de trabalho (villages).
“No fundo trazem aquilo que se está a discutir a nível internacional, preparam as sessões em conjunto com a equipa da ACEGE Next, em colaboração também com os professores que nos têm estado a acompanhar neste percurso, e depois desafiamo-nos uns aos outros a pensar propostas. Cada um tem a sua perspetiva: temos pessoas ligadas à academia, pessoas que trabalham em empresas ou no setor social, estudantes. Torna-se, de facto, uma discussão muito interessante e muito rica”, sublinha.
Ao longo do segundo módulo de formação estão a ser abordadas as mais variadas temáticas. “À semelhança do evento principal, que propõe que nos organizemos por 12 temas - desde ‘trabalho e cuidado’, por exemplo, a ‘política e felicidade’, ou ‘vocação e lucro’ -, neste segundo módulo estamos já a fazer essa reflexão a nível local, ou seja, a nível da realidade portuguesa”, explica, considerando que tem sido “muito interessante” passar a esta parte prática das propostas, “concretizar aquilo que as pessoas pensam, sabem e conhecem sobre o que podemos mudar ao nível de comportamentos individuais, mas também ao nível das organizações, e o que podem até ser propostas públicas que possam influenciar a política do nosso país”. E não tem dúvidas de que “isto vai deixar frutos e pistas para o futuro”, porque “as pessoas estão-se a mobilizar”.
Rita, que também tem estado envolvida nas iniciativas propostas pela organização de Assis - nomeadamente nas reflexões sobre ‘trabalho e cuidado’ do grupo internacional - fala na expectativa que, cá dentro e lá fora, une os participantes. “Somos muitos e há muito entusiasmo, e todos temos tido a possibilidade de participar num conjunto de eventos até ao evento. No fundo, a organização criou uma espécie de seminários online, e tem havido um conjunto de oradores seniores e jovens que falam sobre os temas e ajudam a preparar o evento. E está-se a sentir que há muita coisa a acontecer no mundo, porque a nível local os peritos também se estão a organizar e a promover encontros a caminho da 'Economia de Francisco'. A organização soube adaptar-se muito bem e desafiou os participantes a pensar um mundo no que será um pós-Covid, e olhar para os temas já dessa perspetiva tem sido muito interessante”.
Um movimento que “veio para ficar”
O encontro ‘A economia de Francisco’ convocado pelo Papa para Assis, em novembro, vai decorrer de forma virtual, mas envolvendo na mesma jovens economistas e empresários do mundo inteiro. Rita Sacramento Monteiro acredita que a nova encíclica ‘Todos irmãos’, que o Santo Padre vai apresentar em outubro, precisamente em Assis, já irá ser tida em conta nas reflexões que se fizerem no evento.
“Estou bastante curiosa com o novo documento do Papa. Neste tempo em que as pessoas perceberam que um vírus pode parar o mundo, acho que a ideia de que somos todos irmãos e irmãs ainda está mais presente, portanto, pode ser um documento interessante para aprofundar. Nós, de facto, sozinhos não vamos lá, vamos com todos, vamos uns com os outros. O bem comum é o bem de todos, e é esse que devemos querer”, sublinha Rita, que acredita que a mudança já começou.
“Sentimos muito que isto é o início de um movimento que veio para ficar. Esta não é uma economia que se pensa num só evento, num só ano. Ainda bem que a possibilidade de podermos estar todos juntos, presencialmente, foi adiada para 2021, porque reforça a ideia de que isto é para continuar, e foi aberta a possibilidade de haver um fórum promovido por crentes, mas que deve ser aberto a todos para pensar uma nova economia e um novo mundo”, refere.
Para Rita Sacramento Monteiro a experiência de pandemia poderá ajudar à reflexão e à mudança de paradigma que, no fundo, o Papa pretende e sugere com este encontro.
“A Covid deu um sentido de urgência maior à transformação que é necessária. Já toda a gente está familiarizada com o discurso de que é urgente mudar, que o mundo está a dar variadíssimos sinais de que são precisas políticas novas, comportamentos individuais novos. Com o pós-Covid espera-se que, de facto, se concretize muito do que se tem vindo a falar, e se concretize até a níveis mais profundos, porque houve coisas que aprendemos, necessariamente, até do ponto de vista de colaboração entre as pessoas, de resiliência, da nossa capacidade de generosidade, de olharmos para o outro e de nos preocuparmos com o bem comum, e é a isso que o Papa nos desafia”.
O encontro ‘A economia de Francisco’ vai decorrer de forma virtual de 19 a 21 de novembro. O Papa também participará através de vídeo conferência.