A antiga funcionária do Facebook, que denunciou a empresa por colocar os benefícios económicos à frente da segurança dos utilizadores e mesmo do sistema democrático, apresentará as suas revelações ao Parlamento Europeu (PE) na segunda-feira.
A intervenção Frances Haugen coincide com a negociação de duas leis que estão a ser finalizadas em Bruxelas para limitar o poder de mercado das grandes empresas tecnológicas e exigir que tenham mais controlo sobre os conteúdos ilegais que aparecem nas suas plataformas.
“Estou particularmente interessado em saber se Frances Haugen tem sugestões específicas para o nosso trabalho sobre a lei dos serviços digitais, em relação à responsabilidade das plataformas”, disse a relatora desta legislação, a eurodeputada social-democrata Christel Schaldemose.
“O testemunho de Haugen irá provavelmente revelar o papel problemático que plataformas como o Facebook desempenham na sociedade moderna”, disse também à EFE Andreas Schwab, eurodeputado do Partido Popular Europeu, relator do segundo regulamento, a lei do mercado digital.
A União Europeia, que perdeu a batalha contra Silicon Valley quando se tratou de promover o aparecimento de grandes empresas na Internet, aspira agora a liderar o seu controlo com leis que protejam melhor os utilizadores e promovam a livre concorrência num mundo digital onde o Facebook, Google e Amazon têm um papel indiscutível na vida quotidiana dos cidadãos.
A lei dos serviços digitais obrigará as plataformas a fornecer informações às autoridades sobre a forma como funcionam os algoritmos que regulam os conteúdos que cada utilizador vê, e estas terão de se submeter a auditorias independentes que analisarão, por exemplo, a forma como as empresas removem informações ilegais.
“Precisamos de abrir a caixa negra que são os algoritmos e pedir às plataformas para rever o risco que qualquer algoritmo implica para os utilizadores”, disse Schaldemose, que espera que a intervenção de Haugen “sublinhe a necessidade” de agir nesta área.
“O Facebook ganha dinheiro ao recolher dados de utilizadores e ao proliferar conteúdo político através de anúncios publicitários. Quanto mais extremos, mais cliques recebem”, afirma Schwab.
“O Facebook decide o que vemos e com que frequência vemos. Mas estas regras não devem ser decididas apenas por uma empresa privada”, continuou.
A intenção dos legisladores da UE é que as duas leis possam ser aprovadas no próximo ano para entrarem em vigor em 2023.