Médicos de Lisboa e Vale do Tejo em greve para exigir salários dignos
13-09-2023 - 07:40

Sindicato diz "que os médicos não são super-heróis, a quem tudo pode ser exigido sem necessidade de descanso", pendido "tão-somente salários dignos".

Os médicos da região de Lisboa e Vale do Tejo iniciam esta quarta-feira uma greve de dois dias para exigir uma "resposta efetiva" ao caderno reivindicativo sindical e uma proposta de grelha salarial digna, adequada à sua formação, depois do fracasso nas negociações.

Convocada pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM), a greve regional, que teve início às 00h00 desta quarta-feira e termina às 24h00 de quinta-feira, abrange os hospitais Beatriz Ângelo, em Loures, Vila Franca de Xira, Garcia de Orta, em Almada, Dr. José de Almeida, em Cascais e os centros hospitalares de Barreiro-Montijo, Setúbal e Psiquiátrico de Lisboa,.

Os serviços mínimos estão assegurados, garante Jorge Roque da Cunha, do SIM, em declarações à Renascença.

"São os hospitais de Vila Franca de Xira, o Hospital de Santarém, o Hospital Beatriz Ângelo e os centros de Saúde, mais ou menos, da região Norte de Lisboa. Os serviços mínimos estão totalmente assegurados, portanto, o que irá ser afetado são, naturalmente, as consultas e as cirurgias menos urgentes que vão ter de ser remarcadas", explica.

São também abrangidos por esta greve os médicos do Instituto de Oftalmologia Gama Pinto (Lisboa), o IPO de Lisboa e o Departamento Medicina Desportiva do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), bem como dos agrupamentos de centros de saúde (ACES) de Cascais, Loures/Odivelas, Estuário do Tejo, Almada/Seixal, Arco Ribeirinho e Arrábida.

Adesão à greve dos médicos ronda os 95% nalguns centros de saúde de Lisboa

A adesão à greve dos médicos ronda os 95% nos dois principais agrupamentos de centros de saúde de Lisboa e Vale do Tejo e no Hospital Beatriz Ângelo apenas os blocos operatórios de urgência estão a funcionar, segundo o sindicato.

Em declarações à Lusa, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, disse que “ainda é cedo para ter dados globais”, mas sublinhou que, perante a posição do Governo nas negociações que terminaram na terça-feira, espera “uma adesão muito expressiva”.

“Nos centros de saúde de dois dos principais agrupamentos de Lisboa, a adesão é de cerca de 95% e, nos blocos de cirurgia do Hospital Beatriz Ângelo, só estão a funcionar os blocos de urgência, portanto, com uma adesão muito próxima dos 100%”, explicou Roque da Cunha.

O secretário-geral do SIM recordou que na última reunião de negociação, na terça-feira, o Governo “não ultrapassou a proposta de 3,1% de aumento salarial”, sublinhado que “nos últimos 10 anos houve uma perda salarial de 22%”.

“Os impostos que nós pagamos obrigariam a que o Governo fizesse esse investimento do SNS, o que não esta a acontecer”, afirmou o responsável, sublinhando: “Em função do que tem sido a resposta do Governo em relação às questões que colocamos, esperamos uma muito expressiva adesão”.

Esta quarta e na quinta-feira decorre a primeira de duas greves regionais convocadas pelo SIM para a região de Lisboa e Vale do Tejo. A próxima está agendada para 27 e 28 de setembro.

Entretanto, a Federação Nacional dos Médicos anunciou novas greves para os dias 17 e 18 de outubro e convidou o Sindicato Independente a juntar-se. Roque da Cunha não confirma a adesão ao protesto, mas admite que haverá um encontro entre sindicatos.

O SIM refere que a greve ocorre "sob a forma de paralisação total e com ausência dos locais de trabalho" e tem como objetivo levar o Governo a dar "uma resposta efetiva ao caderno reivindicativo sindical".

Visa também a apresentação pelos ministros das Finanças e da Saúde de "uma proposta de grelha salarial que reponha a carreira das perdas acumuladas por força da erosão inflacionista da última década e que posicione com honra e justiça toda a classe médica, incluindo os médicos internos, na Tabela Remuneratória Única da função pública".

Para explicar as razões da greve à população, o SIM escreveu uma "Carta aberta aos Utentes do SNS" em que afirma que "os médicos fazem esta greve também para melhorar os cuidados de saúde dos portugueses", apelando, por isso, à compreensão e solidariedade dos cidadãos.

"O atual SNS não sobrevive sem milhões de horas extras e o esforço desumano dos médicos, o que coloca em risco a sua saúde e a saúde de quem assistem. Não é possível continuar neste caminho! Os médicos não são super-heróis, a quem tudo pode ser exigido sem necessidade de descanso. Não querem o regime de 52 horas de trabalho semanais proposto pelo Governo, porque isso põe em risco a segurança clínica. Afinal o que querem os médicos? Tão-somente salários dignos, adequados à sua formação e à responsabilidade da sua profissão, horários de trabalho humanos e tempo para ter uma família e se atualizarem cientificamente", lê-se na carta.

O SIM tem também agendada uma nova greve regional para os dias 27 e 28 de setembro que abrangerá outras instituições de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.

As negociações entre sindicatos dos médicos e o Ministério da Saúde iniciaram-se em 2022, mas não tem havido consenso.