O Presidente da República considerou esta quinta-feira que “certamente o Governo português já pensou” num plano para proteger os cidadãos portugueses e lusodescendentes na Venezuela, se necessário, mas afastou “qualquer especulação” sobre o envio de forças militares.
“Todos os governos que têm lá cidadãos têm a obrigação de pensar naquilo que teriam de fazer se houvesse uma situação que todos esperamos que não exista. Certamente o Governo português já pensou nisso”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas no Terreiro do Paço, em Lisboa.
Questionado sobre a hipótese de um envio de forças para a Venezuela, o chefe de Estado e Comandante Supremo das Forças Armadas respondeu que “até agora não se colocou nenhuma questão dessas”, que implicaria naturalmente o seu conhecimento, e que, “portanto, qualquer especulação sobre a matéria é prematura”.
Em seguida, admitiu que “possa haver uma confusão entre as duas realidades”, um eventual envio de forças para a Venezuela e um plano de proteção dos portugueses e lusodescendentes. “São duas coisas completamente diferentes, mas nenhuma delas está na ordem do dia”, acrescentou.
Portugueses não querem sair da Venezuela. Querem, sim, “o fim do impasse político”
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, vincou, também hoje, que “não há nenhum problema com a comunidade portuguesa” na Venezuela e que os portugueses residentes no país não querem sair, mas sim o fim do “impasse político”.
“Não há nenhum problema com a comunidade portuguesa e não tenho nenhuma informação relativa que me possa dizer que a segurança e o bem-estar da comunidade portuguesa na Venezuela esteja em perigo”, declarou o governante, falando aos jornalistas em Bucareste, na Roménia, à entrada para uma reunião informal com outros homólogos da União Europeia (UE).
Recordando que, no início da semana, houve assaltos a estabelecimentos portugueses na Venezuela, “mas sem nenhuma sequência”, e que existe um lusodescendente ferido, Augusto Santos Silva notou que, “fora isto, não há nenhum problema”, pelo que “a questão que agora se põe não é ajudar os portugueses a sair da Venezuela”.
“Os portugueses, como a imensa maioria dos cidadãos que vivem na Venezuela, não querem sair de lá, querem é sair deste impasse político”, acrescentou.
Já lembrando o ultimato europeu ao Governo do Presidente Nicolás Maduro para a realização de eleições livres na Venezuela, para o qual foi estipulado um prazo de oito dias que termina no fim de semana, o governante disse esperar que a reunião que hoje arranca em Bucareste e que termina na sexta-feira sirva para definir os passos seguintes por parte da UE, caso o apelo não tenha sucesso.
Haverá “o reconhecimento [da nova liderança], certamente, e depois consequências do ponto de vista político e diplomático”, referiu.
Entretanto, hoje o Parlamento Europeu reconheceu Juan Guaidó como o “Presidente interino legítimo” da Venezuela e exortou a UE e os seus Estados-membros a assumirem uma posição semelhante, enquanto não for possível convocar eleições presidenciais.
Em reação, Santos Silva defendeu o respeito pelo prazo dado.
“Na minha opinião, temos de ser credíveis e, portanto, nós dissemos que havia um prazo de alguns dias para que o Presidente Nicolás Maduro pudesse associar-se a este processo e, portanto, esperaremos que esse tempo decorra”, assinalou.
A crise política na Venezuela agravou-se com a autoproclamação de Juan Guaidó, na semana passada.
Na Venezuela residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.