Coronavírus. OMS declara emergência de saúde global, sem restrição de viagens
30-01-2020 - 19:43
 • Renascença

Organização Mundial de Saúde "opõe-se a todas as restrições de viagens". Prioridade é partilhar informações, "apoiar países com Serviços Nacionais de Saúde mais frágeis, acelerar produção de vacinas e combater desinformação”, afirma o diretor-geral.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou esta quinta-feira uma emergência de saúde a nível global face à epidemia de coronavírus, no mesmo dia em que a China anunciou a morte de mais 38 pessoas, fazendo subir o balanço de vítimas mortais para 171 em menos de um mês.

Embora o número de casos fora da China "seja pequeno, temos todos de agir em conjunto para conter o surto. Ainda não sabemos qual é o tipo de danos que este vírus pode fazer se chegar a um país com um serviço de saúde mais frágil”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, em conferência de imprensa na sede da organização, em Genebra, na Suíça.

O responsável elogia os esforços das autoridades chinesas para tentar conter o surto de coronavírus. "Haveria muitos mais casos sem estas medidas, mesmo fora da China", sublinhou.

“A rapidez com que a China detetou o surto, isolou o vírus, sequenciou o genoma e partilhou a informação com a OMS é impressionante, tal como o compromisso da China com a transparência e na ajuda a outros países. A China está a definir uma nova fasquia para a resposta a surtos."

O diretor-geral da OMS considera que a prioridade, agora, é "apoiar países com Serviços Nacionais de Saúde mais frágeis, acelerar produção de vacinas e combater desinformação”.

Até esta quinta-feira, a OMS registou 98 casos de coronavírus em 18 países fora da China, incluindo oito situações de transmissão ente humanos em quatro países: Alemanha, Japão, Vietname e Estados Unidos. "Até agora, não há casos mortais fora da China", afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus.

O surto do coronavírus na China infetou no país 7.736 pessoas e matou 170, de acordo com o mais recente balanço.

"A OMS não recomenda a restrição de viagens"

Questionado pelos jornalistas, Tedros Adhanom Ghebreyesus diz que não cabe à OMS recomendar restrições ao nível de comércio ou de viagens para a China.

"A OMS não recomenda a restrição de viagens, as trocas comerciais e os movimentos [de pessoas] e opõe-se mesmo a todas as restrições de viagens", afirmou o diretor-geral da OMS.

“A única maneira de acabar com o surto é todos os países trabalharem em conjunto e colaborarem. É o momento da solidariedade não do estigma, de trabalhar com a ciência e não com rumores”, defende o diretor-geral da OMS.

Na última semana, a OMS esteve reunida de emergência por duas vezes e em ambas não houve consenso para avançar com esta declaração de emergência global, com alguns dos médicos e cientistas a alegarem que ainda não tinham em sua posse informação suficiente para tomar essa decisão.

Declarar uma emergência global por questões de saúde pública pode contribuir para mais sinergia entre os vários países no combate à epidemia, mas também coloca os países no epicentro dos surtos sob ainda mais escrutínio.

Os primeiros casos de infeção pelo novo coronavírus foram registados a 31 de dezembro em Wuhan, na China. Em menos de um mês, o número de infeções confirmadas disparou para quase oito mil dentro da China, havendo pelo menos 68 casos confirmados no resto do mundo.

Esta quinta-feira, França confirmou o seu sexto caso de infeção e os EUA tornaram-se o quinto país a confirmar a primeira transmissão do vírus entre humanos no seu território, num caso envolvendo uma mulher de Chicago que voltou de Wuhan recentemente e que transmitiu o vírus ao marido.

Até agora, a OMS tem tecido elogios à forma como a China está a lidar com o surto de coronavírus.

Na terça-feira, o diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, encontrou-se com Xi Jinping, o Presidente chinês, em Pequim, altura em que aplaudiu a "resposta nacional monumental" posta em marcha pelo Governo assim que o primeiro caso de infeção foi confirmado.

"Estou pasmado com a determinação dos líderes e do povo chinês em acabar com o surto de coronavírus", escreveu o médico no Twitter depois do encontro. "São eles que mais estão a sofrer. As suas vidas e a sua economia estão a carregar o fardo deste surto enquanto eles se sacrificam para o conter. A China precisa da solidariedade e do apoio de todo o mundo."