A Amnistia Internacional (AI), sedeada em Londres, pediu aos Estados Unidos que retirassem as acusações contra Julian Assange e ao Reino Unido que evite extraditá-lo. O pedido foi feito na terça-feira antes do início da nova fase do julgamento, nesta quarta-feira.
Num comunicado, a secretária-geral da AI, a ativista francesa Agnès Callamard, pede também que o fundador da Wikileaks, detido na prisão britânica de Belmarsh, seja libertado imediatamente.
Os apelos de Callamard surgem após a conclusão de uma investigação recente realizada pelo portal Yahoo News, segundo a qual os serviços de segurança dos Estados Unidos ponderaram a hipótese de “sequestrar ou de matar” Assange quando o ativista se encontrava asilado na embaixada do Equador em Londres.
“[Esta conclusão] enfraquece ainda mais as já duvidosas garantias diplomáticas de Washington de que Assange não será colocado em condições que possam constituir maus-tratos se extraditado”, sublinhou Callamard.
“As garantias do Governo dos Estados Unidos de que Julian Assenge não será admitido numa prisão de máxima segurança ou sujeito a medidas administrativas especiais abusivas foram desacreditadas, ao admitir que se reserva o direito de revogá-las”, acrescentou, sublinhando que essas novas evidências “trouxeram ainda mais dúvidas sobre a fiabilidade das promessas” norte-americanas.
Por isso, no entender da secretária-geral da Amnistia Internacional, as novas evidências “puseram a nu a motivação política que está subjacente a este caso”.
“É grotesco que, quase 20 anos depois, praticamente nenhuma pessoa responsável pelos alegados crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos durante as guerras no Afeganistão e no Iraque tenha sido responsabilizada, muito menos julgada”, sustentou.
A ativista francesa também qualificou, usando os mesmos termos, o facto de um editor, Assange, que trouxe esses crimes à luz do dia, “possa ser condenado a prisão perpétua”.
“Grave ameaça à liberdade de imprensa”
A audiência de quarta-feira deve examinar cinco fundamentos do recurso apresentado por Washington, que inclui a confiabilidade das garantias oferecidas pelo Governo norte-americano depois de o tribunal de magistrados de Westminster (Londres) ter decidido negar a extradição de Assange, em janeiro de 2021.
A AI lembra que os Estados Unidos acusam Assange de conspirar com a analista de informação militar norte-americana Chelsea Manning para obter ilegalmente informações confidenciais e querem que seja julgado no país de acordo com leis que podem levar a uma sentença até 175 anos de prisão.
A AI considera que o processo iniciado por Washington “representa uma grave ameaça à liberdade de imprensa, tanto nos Estados Unidos quanto no exterior”, pois “descreve condutas que incluem atividades profissionais realizadas no dia-a-dia por editores e profissionais da imprensa no jornalismo de investigação”.
Callamard defendeu ainda que a “implacável perseguição” a Assange feita pela administração norte-americana “deixa claro” que a acusação é uma “medida punitiva”, mas que também representa “motivos de preocupação que vão muito além do destino de um homem” e que “colocam em risco a liberdade de imprensa e liberdade de expressão”.