O arcebispo de Évora lamenta o encerramento do Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli (vulgarmente chamado Convento da Cartuxa), decidido pelos responsáveis daquela ordem contemplativa. À Renascença, D. Francisco Senra Coelho diz que recebeu a notícia “com muita tristeza”, embora não tenha sido uma surpresa.
“A Cartuxa ficou com dificuldades de fazer a formação dos próprios candidatos à Ordem, e por isso passaram a fazer a sua formação em Espanha. Há cerca de cinco anos a Cartuxa viveu uma segunda alteração, passou a ficar dependente da Cartuxa de Miraflores, em Espanha, exatamente por não ter capacidade e autonomia para permanecer como um Priorado dentro da organização da Cartuxa”, explicou esta sexta-feira, sublinhando também a idade avançada dos monges que residem na comunidade. “São quatro, entre os 80 e os 90 anos, o que nos fazia já pressentir uma situação difícil, uma vez que a formação dos Cartuxos é longa, e as vocações que têm surgido não são suficientes para que haja uma renovação no imediato”.
Na mesma entrevista à Renascença, D. Senra Coelho fala numa “grande perda”, tanto para a arquidiocese como para a Igreja em Portugal.
“Para Évora é um símbolo forte de dimensão espiritual, presença de Deus, mas é uma realidade que transcende a arquidiocese de Évora. A grande experiência cartusiana, que tem quatro séculos na nossa História, é de facto uma parte da alma da Igreja portuguesa na sua dimensão contemplativa, uma riqueza enorme também de dimensão cultural, uma riqueza litúrgica.”
A solução pode agora passar por encontrar uma outra ordem religiosa que se instale na Cartuxa, e o bispo confirma que já iniciou contactos nesse sentido.
“Estou já a trabalhar intensamente no sentido de encontrar uma sucessão para a Cartuxa de Évora. É evidente que nenhuma ordem substitui outra ordem, porque são carismas com identidade e especificidades próprias, e a Cartuxa é insubstituível”, mas tanto poderá ser uma ordem masculina como feminina, “é aquilo que Deus nos quiser oferecer”.
“Estou a rezar para que um dia venham os monges de Belém também para Portugal”, revela ainda D. Senra, lembrando que em termos de ordens contemplativas masculinas agora, no país, só ficam os beneditinos, no Mosteiro de Singeverga, em Santo Tirso, na Diocese do Porto.
D. Senra pede “a oração da arquidiocese e de todos os católicos portugueses, para que consigamos ter a alegria de ver a Cartuxa, enquanto património, lugar e símbolo, habitado por uma nova comunidade orante”. E aos “caríssimos irmãos da Cartuxa” deixa um “abraço muito grande de reconhecimento pelo grande sinal que nos deixam, e pela riqueza imensa da sua vida que é para nós, de facto, uma interpelação. Estamos com eles nesta hora de despedida, porque sentimos que não é fácil também para eles deixar a sua Évora, porque amam Évora e levam Évora no seu coração”.
Os quatro monges que residem atualmente na Cartuxa deverão transferir-se para Barcelona já no início de novembro, mas ainda não há uma data oficial para a partida, nem para a “celebração de despedida”, que a diocese lhes fará. “Será uma celebração de ação de graças pela sua presença e de reconhecimento por tudo o que eles nos deixam como grande património testemunhal de vida monástica, de riqueza de oração, de espiritualidade”.
A 6 de Outubro, dia de S. Bruno, D. Senra espera ordenar sacerdote o diácono Paulo Fonseca, que “é um fruto da Cartuxa”, porque foi ali formado durante cinco anos, e só depois optou pelo clero diocesano.
O encerramento da comunidade monástica de Évora foi decidido pelo Capítulo Geral da Ordem da Cartuxa, que vai fechar também o mosteiro feminino de Benifása, em Espanha.