O Papa Francisco apelou este domingo ao diálogo para superar os conflitos que afetam a Síria e o Equador, recordando em particular a situação das famílias cristãs na fronteira junto à Turquia.
“O meu pensamento vai mais uma vez para o Médio Oriente, em particular para a amada e martirizada Síria, de onde chegam de novo notícias dramáticas sobre a sorte das populações do nordeste do país, obrigada a abandonar as próprias casas por causa das ações militares”, denunciou, antes da recitação da oração do ângelus, na Praça de São Pedro.
Perante dezenas de milhares de pessoas que acompanhar a Missa com cinco canonizações, no Vaticano, Francisco recordou que a intervenção militar da Turquia no nordeste da Síria afeta “muitas famílias cristãs”. “A todos os envolvidos e à comunidade internacional, por favor: renovo o apelo a um compromisso sincero no caminho do diálogo, para procurar soluções eficazes”, declarou.
Segundo a ONU, mais de 130 mil pessoas deixaram as suas casas nas cidades de Tal Abyad e Ras al-Ain, desde que a ofensiva turca começou no nordeste da Síria, na quarta-feira, informou hoje a ONU (Organização das Nações Unidas).
A Turquia declarou que o objetivo da ofensiva é combater e afastar da região a milícia curdo-síria Unidades de Proteção Popular (YPG, integrante das FDS), que os turcos consideram uma organização terrorista.
O Papa Francisco disse ainda acompanhar, com todos os membros do Sínodo especial para a Amazónia, a situação no Equador. “Sigo com preocupação o que está a acontecer nas últimas semanas nesse país. Confio-o à oração comum e à intercessão dos novos santos, unindo-me à dor pelos mortos e os feridos”, declarou.
Depois de mais de uma semana de protestos e confrontos no Equador, os líderes do protesto aceitaram este sábado negociar diretamente com o presidente Lenin Moreno.
O Papa encorajou todos a “procurar a paz social, com particular atenção às populações mais vulneráveis e aos Direitos Humanos”.
A população protesta contra medidas de austeridade no Equador, que fizeram disparar o preço da gasolina e do gasóleo na tentativa de reduzir o défice do país, que chegou recentemente a acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para um empréstimo de 3,8 mil milhões de euros.
Papa canonizou cardeal Newman e irmã "Dulce dos pobres"
O Papa Francisco canonizou hoje no Vaticano cinco beatos católicos, incluindo o cardeal Newman, figura de referência do pensamento católico no século XIX, e a irmã Dulce, primeira santa nascida no Brasil, conhecida pela sua dedicação aos pobres.
Perante milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal Angelo Becciu, acompanhado pelo postuladores das cinco causas, pediu que os beatos fossem inscritos “no álbum dos santos”.
Francisco proclamou depois a fórmula de canonização, em latim e sentado, como sinal da sua autoridade pontifícia. O momento foi assinalado pela multidão com uma salva de palmas e o cardeal Becciu agradeceu ao Papa, concluindo o rito.
Francisco destacou que a canonização de três religiosas mostram que este é “um caminho de amor nas periferias existenciais do mundo”.
As novas santas que viveram em institutos religiosos são a irmã Dulce Lopes Pontes, (Brasil, 1914-1992), da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus; Josefina Vannini (Itália, 1859-1911), fundadora das Filhas de São Camilo; e Maria Teresa Chiramel Mankidiyan, (Índia, 1876-1926), fundadora da Congregação das Irmãs da Sagrada Família
A intervenção citou o ensinamento do cardeal John Henry Newman, (1801-1890), fundador do Oratório de São Felipe Néri, na Inglaterra: «O cristão possui uma paz profunda, silenciosa, oculta, que o mundo não vê» (Parochial and Plain Sermons, V, 5).
“Peçamos para ser, assim, «luzes gentis» no meio das trevas do mundo. Jesus, «ficai connosco e começaremos a brilhar como brilhais Vós, a brilhar de tal modo que sejamos uma luz para os outros»”, acrescentou o pontífice.
O Papa evocou ainda a nova santa suíça, Margarida Bays, (1815-1879), da ordem terceira de São Francisco, costureira de profissão: “Revela-nos quão poderosa é a oração simples, o suportar com paciência, a doação silenciosa – através destas coisas, o Senhor fez reviver nela o esplendor da Páscoa”.
Na homilia da celebração, Francisco destacou que Deus “não exclui ninguém” e “ouve o grito de quem está abandonado”, quando este lhe pede ajuda. “Precisamos de ser curados da pouca confiança em nós mesmos, na vida, no futuro; curados de muitos medos; dos vícios de que somos escravos; de tantos fechamentos, dependências e apegos: ao jogo, ao dinheiro, à televisão, ao telemóvel, à opinião dos outros. O Senhor liberta e cura o coração. Invoquemos diariamente, com confiança, o nome de Jesus: Deus salva. Repitamo-lo: é oração. A oração é a porta da fé, a oração é o remédio do coração”, declarou.
“Somos guardiões dos irmãos distantes. Somos intercessores por eles, somos responsáveis por eles, isto é, chamados a responder por eles, a tê-los a peito. Queres crescer na fé? Ocupa-te dum irmão distante, duma irmã distante”, apelou.O Papa desafiou os presentes a avançar na fé, “com amor humilde e concreto, com a paciência diária” atentos a quem “deixou de caminhar, a quem se extraviou”.
Num momento em que decorre no Vaticano o Sínodo especial para a Amazónia, o Papa declarou que a “a fé cresce com o risco”. “A fé requer um caminho, uma saída; faz milagres, se sairmos das nossas cómodas certezas, se deixarmos os nossos portos serenos, os nossos ninhos confortáveis”, precisou.
Francisco destacou ainda a importância de saber agradecer, de dizer “obrigado, Senhor”, ao acordar, durante o dia, antes de deitar, como um “antídoto ao envelhecimento do coração”. “Invocar, caminhar, agradecer. Hoje, agradecemos ao Senhor pelos novos Santos, que caminharam na fé e agora invocamos como intercessores”, concluiu.
Entre as delegações oficiais na celebração encontravam-se o príncipe Carlos, de Inglaterra, e Hamilton Mourão, vice-presidente da República do Brasil.