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Com a comunidade reunida para a eucaristia vespertina, o padre Helder Sá, pároco da Paróquia de Santa Maria Maior, em Chaves, partilhou o sentimento de perda pela partida de Bento XVI e a gratidão pelo serviço que prestou à Igreja.
“Recebemos hoje a notícia da morte do Papa emérito Bento XVI e queremos agradecer a Deus e a ele por tudo quanto ele nos prestou. Foi um grande teólogo, um perito no Concílio Vaticano II, manifestou, depois, já quando Papa, através das suas reflexões nas encíclicas sobre as três virtudes teologais a vida de Jesus, a introdução ao cristianismo”, disse aos fiéis.
“Um grande intelectual, um grande pensador, mas um grande amigo de Deus e amigo dos homens. E, depois, muito humilde, quando sentiu que não era capaz, com as forças que tinha, para levar por diante a missão de ser Papa, resignou e viveu no escondimento, durante perto de dez anos, num convento, dedicado à oração e ao estudo”, acrescentou, desejando que “Deus também o recompense por tudo quanto fez por nós”.
Já à saída da eucaristia, Odete Alves, de 50 anos, disse à Renascença que Bento XVI “foi o Papa da fé, da razão, da justiça e do amor”.
“Foi um pastor que conjugou uma fé esclarecida com a razão, que busca no amor o parâmetro de decisão e de julgamento de todas as coisas”, explica, acrescentando que foi “um Papa em comunhão, em diálogo, também com a sociedade, com a cultura. Um Papa humilde, que é capaz de ceder o seu lugar no seu momento de incapacidade, de perplexidade perante a limitação”.
Segundo esta catequista, “é para nós, para o mundo de hoje, para os critérios que regem a sociedade, um grande testemunho de que a nossa missão também tem o seu fim, mas também que essa missão pode ser reconvertida em outra missão, em favor da humanidade”.
“Nos últimos anos não esteve à frente da Igreja, mas esteve de uma outra forma, de uma forma escondida, orante e, quem sabe, mais produtiva, mais frutuosa”, destaca.
O Papa intelectual e humilde
Diogo Gomes, de 35 anos, destaca a humildade de Bento XVI e partilha que o que mais o marcou foi, precisamente, a sua retirada “como peregrino”.
“Para mim, o Papa Bento XVI é o Papa da fé e da razão e a frase que mais me marcou foi a que pronunciou, quando renunciou, ao afirmar que seria um peregrino a iniciar a sua peregrinação no escondimento”, conta.
Para Luísa Bandeirinha, 54 anos, Bento XVI “marcou uma fase de transição entre dois momentos importantes da história da Igreja”. Esteve com o Papa emérito, em Fátima, e não esquece esse momento tão marcante para a vida.
“Estive em 2010, no dia 13 de maio, num momento também importante da minha vida pessoal. E foi realmente um momento único, um momento relevante”, diz.
Para esta paroquiana de Santa Maria Maior, em Chaves, o “grande legado, e aquilo que vai ficar para a Igreja, e aquilo que vai ficar para a história, é a ligação entre fé e razão, que, obviamente, não quer dizer que não estivesse presente nos pontificados anteriores, mas que ele, como homem do ensino, do meio universitário, e do meio intelectual, acentuou naquilo que foi dizendo, nas encíclicas que escreveu, nos livros, o recentrar novamente a fé cristã em Jesus, na figura de Jesus, o Jesus histórico que ele procurou dar a conhecer”.
“Essa ligação entre a fé e a razão que ele tão bem construiu e apresentou, é fulcral e é fundamental hoje, também”, entende.
“Um grande doutor da Igreja”
De passagem por Chaves, João Cortês, 68 anos, diz à Renascença que Bento XVI “foi um homem que governou a Igreja um pouco com mão de ferro”, mas muito importante, num momento de transição.
“Era um Papa conhecido como o Papa mais intelectual, que tratava as coisas noutro conceito, mas teve os seus méritos, foi o primeiro Papa alemão e isso foi importante para a Alemanha e para a Europa”, diz.
Joaquim Vieira, de 76 anos, partilha um sentimento de perda e refere que Bento XVI deixa a marca de um intelectual da Igreja.
“Ratzinger, ao contrário de outros papas anteriores, e mesmo de muita gente ligada à Igreja, era de facto um pilar naquilo que concerne ao conhecimento profundo da Bíblia, de Jesus, etc., da Igreja”, observa.
Reportando-se às várias encíclicas e intervenções ao longo dos oito anos de pontificado, refere que o Papa “tentou manter sempre a unidade da Igreja”.
“Pode não ter sido um Papa muito - digamos - progressista, que tivesse feito grandes mudanças, mas não deixou de fazer a sua obra e de tentar manter a Igreja unida”, sublinha, acrescentando que “deixou um legado importante e deve ser lembrado como um grande doutor da Igreja”.