Moreira vs Moedas. Um caso de polícia(s) e muitos elogios
15-10-2024 - 11:34
 • Daniela Espírito Santo , João Malheiro

Presidentes das duas maiores cidades do país debateram o que os une e separa em questões de mobilidade - e não só.

O segundo painel da Conferência Renascença/Câmara Municipal do Porto sobre "Mobilidade nas Grandes Cidades" envolveu um debate entre os autarcas de Lisboa e Porto. Em vários aspetos da mobilidade das cidades, foi na questão da polícia municipal em que houve um maior contraste de ideias.

Rui Moreira é contra a ideia de uma polícia municipal capaz de fazer investigação criminal.

O autarca refere que não quer uma polícia municipal como a que existe em Madrid e "a que Carlos Moedas quer" para Lisboa.

"Não gostava de chegar a uma cidade e um autarca pedir a polícia municipal e pedir para me investigar", exemplifica.

Carlos Moedas defende, por seu lado, que não quer uma polícia com capacidade de investigação, mas que seja capaz de deter pessoas que tenham cometido um crime e levá-las a uma esquadra.

O autarca de Lisboa diz que se trata apenas de "uma pequena mudança legal" para resolver uma situação "ridícula" (e que, diz Moreira, não acontece no Porto).

"Um polícia municipal, hoje em dia, fica no meio da rua com uma pessoa que cometeu um crime, à espera da PSP. Se a PSP estiver com outras urgências, nao pode vir logo", aponta.

Rui Moreira está "contente com as competências" atuais da polícia municipal, mas quer mais agentes, até porque o Porto é uma cidade segura, "mas corre o risco de não ser, se, subitamente, não haver mecanismos para a garantir".

"O Porto é muito mais seguro do que era há 15 anos. Há mais gente na rua. O centro histórico é muito mais seguro. Tem cidadãos, um protege o outro. Isto não inibe que sejam necessários agentes", defende.

Contudo, volta a realçar que é preciso "mais visibilidade policial", com agentes treinados perto da zona do Porto e não longe da região.

"Se as medidas forem tomadas hoje, daqui a três, quatro e cinco anos vamos ter um conjunto de agentes preparados", apela.

Carlos Moedas assegura que o mesmo também acontece na capital, onde "há um problema de número e visibilidade" de agentes da polícia nas ruas. A solução passa, diz, pela "valorização da profissão e pagar melhor" às forças de segurança.

"Estou preocupado com a segurança, porque não há visibilidade da polícia, porque há mais assaltos em Lisboa. Não quero que a cidade entre por esse caminho", reitera.

Inspirações e elogios, apesar das diferenças

O final do debate entre os presidentes de Porto e Lisboa terminou com uma reflexão do que une as duas cidades.

Nesse âmbito, Carlos Moedas acabou por tecer rasgados elogios à Invicta e, sobretudo, à "marca Porto.", obra "do colega Rui Moreira" que considera "uma ideia absolutamente única e genial". "É uma marca absolutamente extraordinária", elogia.

O trabalho entre as duas cidades é, afinal de contas, feito "em grande consonância". "Retiramos muitos exemplos do Porto porque os nossos vereadores trabalham muito em conjunto. Temos trabalhado em partilha de experiências, que são muito úteis para Lisboa", reforça.

Já Rui Moreira indica que, quando chegou ao executivo camarário, "começou por aprender na parte da Cultura, muito do que estava a ser feito em Lisboa serviu de inspiração".

"Temos mantido entre Porto e Lisboa uma cooperação estratégica muito importante. A transformação no transporte público foi feita com entendimentos entre Lisboa e Porto", assinala o autarca portuense, que já trabalhou com três presidentes lisboetas desde que chegou à CMP e acredita que, hoje em dia, há mais pormenores a unir as duas cidades do que a separá-las, mesmo nas suas diferenças.

"Que sorte Portugal tem de ter duas cidades tão diferentes. Num país de média dimensão europeia é surpreendente. É útil", conclui.