Depois de ter organizado, por todo o país, vários debates e sessões de esclarecimento sobre a morte medicamente assistida, o movimento cívico STOP Eutanásia convocou uma manifestação nacional para esta quinta-feira, em Lisboa. Está marcada para as 12h30, frente ao parlamento, onde na próxima semana vai se debatida e votada a legalização da eutanásia.
“É importante que nestes dias que faltam até ao dia 29, os deputados oiçam, se apercebam e consciencializem do que os portugueses querem. Temos de mostrar, enquanto sociedade civil, aquilo que pensamos” explica à Renascença Graça Varão, uma das responsáveis do movimento.
Graça Varão considera “uma precipitação, uma irresponsabilidade e um erro” querer-se legislar à pressa sobre uma matéria tão sensível. “É uma precipitação, porque o parlamento não está mandatado para esta lei, dado que a eutanásia não fazia parte dos programas eleitorais de três dos quatro partidos que apresentaram projetos, fazia parte apenas do PAN; é uma irresponsabilidade, porque não se está a querer ver as consequências gravíssimas da lei, e é um erro, porque, pela experiência nos países onde a lei já existe, vemos que uma lei destas leva a que a sociedade se torne cada vez mais egoísta e individualista, com uma cultura de descarte da própria vida, e de intolerância e falta de sentido para aquilo que é o sofrimento que, quer queiramos quer não, fará sempre parte das nossas vidas, é inerente à nossa condição humana”.
Graça Varão confia que a lei acabará por não ser aprovada, tendo em conta o muito que ainda há para fazer para melhorar e aumentar a oferta de cuidados paliativos. “Acreditamos no bom senso dos deputados. Fala-se em cerca de 70 mil doentes neste momento que não têm acesso e que precisariam destes cuidados e, portanto, é bom ter calma”. Em sua opinião seria bom, “com muita serenidade e bom senso, prolongar o debate, estudar as experiências que conhecemos dos países onde a eutanásia existe, e que são apenas seis em todo o mundo”, lembra.
O STOP Eutanásia apela “à mobilização de todos” para a manifestação desta quinta-feira, e já têm presença assegurada de pessoas de vários pontos do país. “Virão do norte, de Leiria, Santarém, Caldas da Rainha, de alguns locais do Alentejo, como Évora, Extremoz e Arraiolos, e de todos os arredores de Lisboa, Amadora, Sintra, Cascais. Pensamos que vai ser uma boa mobilização da sociedade civil”, diz Graça Varão.
Na manifestação, marcada para as 12h30 no Largo de S. Bento, serão oradores, entre outros, o deputado municipal António Prôa, a advogada Sofia Galvão, os psicólogos Abel Matos Santos e Sílvia Pires, o médico Hugo Piçarra, a enfermeira Sara Sepúlveda, e Khalid Jamal, da comunidade islâmica, entre outras figuras públicas da sociedade portuguesa.
Na sequência da recente declaração conjunta contra a eutanásia, assinada por 8 religiões, vão ainda marcar presença o padre Nuno Coelho, da Paróquia Cascais, e Fernando Loja, da Aliança Evangélica e vice-presidente da Comissão da Liberdade Religiosa.
Para Graça Varão a concentração desta quinta-feira não prejudica a que a Federação Portuguesa pela Vida convocou para 29 de maio, dia do debate no parlamento. “Ambas são muito importantes, e numa e noutra temos de estar todos, para mostrar que os portugueses estão muito envolvidos e preocupados com as consequências desta hipotética lei”. E acrescenta: “dia 29 lá estaremos também para acompanhar esse dia tão decisivo na sociedade portuguesa”.