Funcionários da Organização Mundial de Saúde (OMS) participaram no sábado numa missão conjunta de agências das Nações Unidas ao Hospital Al-Shifa, no Norte de Gaza, para entregar suprimentos de saúde e avaliar a situação nas instalações, foi anunciado este sábado.
De acordo com um comunicado da OMS, participaram na missão o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA, na sigla em inglês), o Departamento de Segurança e Proteção das Nações Unidas (UNDSS) e o Serviço de Ação contra Minas das Nações Unidas (UNMAS).
"A equipa entregou medicamentos e materiais cirúrgicos, equipamentos de cirurgia ortopédica, além de materiais e medicamentos anestésicos ao hospital", lê-se na nota.
A agência de saúde da ONU salientou que o Hospital Al-Shifa, "atualmente minimamente funcional, precisa de retomar urgentemente pelo menos as operações básicas para continuar a servir os milhares de pessoas que necessitam de cuidados de saúde que salvam vidas".
Outrora o maior e mais importante hospital de referência em Gaza, o Al-Shifa alberga agora apenas uns quantos médicos e alguns enfermeiros, juntamente com 70 voluntários, trabalhando sob o que os funcionários da OMS descreveram como "circunstâncias incrivelmente desafiadoras", e apelidando-o de "hospital que precisa de ser ressuscitado".
"As salas de operações e outros serviços importantes permanecem inoperacionais devido à falta de combustível, oxigénio, pessoal médico especializado e suprimentos", descreveu-se no comunicado.
"O hospital só consegue fornecer estabilização básica de traumas, não tem sangue para transfusão e quase nenhuma equipa para cuidar do fluxo constante de pacientes", apontou a OMS, acrescentando que a diálise está a ser "fornecida a aproximadamente 30 pacientes por dia, com as máquinas de diálise funcionando 24 horas por dia, sete dias por semana, usando um pequeno gerador".
A equipa "descreveu o pronto-socorro como um "banho de sangue" com centenas de pacientes feridos lá dentro e novos pacientes chegando a cada minuto", pacientes com lesões traumáticas "suturados no chão" e sem "controle da dor disponível no hospital".
Os elementos da OMS disseram que "o pronto-socorro está tão cheio que é preciso ter cuidado para não pisar nos pacientes no chão" e que "pacientes críticos estão sendo transferidos para o Hospital Al-Ahli Arab para cirurgias".
"Dezenas de milhares de pessoas deslocadas estão usando o prédio e o terreno do hospital como abrigo. É necessária uma resposta humanitária multifacetada para lhes fornecer alimentos, água e abrigo", frisou-se na nota, notando que muitos pediram à equipa que "contasse ao mundo o que está a acontecer, na esperança de que o seu sofrimento pudesse em breve ser aliviado".
O Hospital Al-Shifa continua a enfrentar uma grave escassez de alimentos e água potável para profissionais de saúde, pacientes e pessoas deslocadas, o que a OMS considerou que "reflete preocupações graves e crescentes em torno da fome persistente em toda a Faixa de Gaza e das consequências da subnutrição na saúde das pessoas e na suscetibilidade a doenças infecciosas".
A agência da ONU assumiu estar "empenhada em reforçar o Hospital Al-Shifa nas próximas semanas, para que possa retomar pelo menos a funcionalidade básica e continuar a prestar os serviços vitais necessários neste momento crítico".
"Até 20 salas de cirurgia no hospital, bem como serviços de cuidados pós-operatórios, podem ser ativados se forem fornecidos suprimentos regulares de combustível, oxigénio, medicamentos, alimentos e água. Também é urgentemente necessário um número adicional substancial de pessoal médico, de enfermagem e de apoio especializado, incluindo equipas médicas de emergência", advogou.
O Hospital Árabe Al-Ahli continua a ser "o único hospital parcialmente funcional" no norte de Gaza, juntamente com três hospitais "minimamente funcionais - Al-Shifa, Al Awda e Complexo Médico Al Sahaba - abaixo dos 24 antes do conflito" e a OMS também está "gravemente preocupada com a evolução da situação no Hospital Kamal Adwan e está a recolher informações com urgência".
A organização concluiu que, à medida que as hostilidades continuam e as necessidades de saúde em toda a Faixa de Gaza aumentam, o Hospital Al-Shifa, "pedra angular do sistema de saúde de Gaza, deve ser restaurado urgentemente" para que possa servir "um povo sitiado, preso num ciclo de morte, destruição, fome e doença".
A guerra entre Israel e o Hamas, que entrou no seu 72.º dia, foi desencadeada por um ataque sangrento e sem precedentes perpetrado pelo movimento islâmico palestiniano em 07 de outubro em solo israelita a partir da Faixa de Gaza.
Segundo Israel, 1.139 pessoas, a maioria civis, foram mortas neste ataque e cerca de 250 foram sequestradas e levadas para Gaza. Cerca de 129 reféns permanecem em Gaza, incluindo corpos, segundo o exército.
Israel prometeu "aniquilar" o Hamas, bombardeando o território palestiniano, sitiando-o e realizando, desde 27 de outubro, uma vasta operação terrestre.
O Ministério da Saúde do Hamas informou na sexta-feira que 18.800 pessoas morreram em bombardeios israelitas, a maioria mulheres, crianças e adolescentes.