O presidente da Câmara do Porto deu hoje indicações para que não seja assinado já o contrato para o lançamento do concurso para a nova ponte sobre o Douro, depois das críticas da oposição sobre a condução do processo.
"Se não querem, é simples: a senhora [Cátia Meirinhos, administradora Executiva da GO Porto, empresa municipal que vai assumir a gestão da obra] fica com a incumbência de não assinar o contrato. Nós vamos preparar uma proposta para vir à câmara nos próximos 15 dias. Desafio os partidos aqui presentes a votar contra", instou o independente Rui Moreira, na reunião do executivo desta manhã.
Os vereadores do PS, PSD e CDU criticaram hoje a falta de debate e transparência na discussão das opções do traçado para a nova ponte D. António Francisco dos Santos, cujo custo, incluindo acessos, é de 36,9 milhões de euros - valor a que acrescem 1,63 milhões de euros para estudos.
De acordo com a administradora da Go Porto, Cátia Meirinhos, a abertura do concurso público internacional para a nova travessia sobre o rio Douro foi hoje aprovada, por unanimidade, na reunião do executivo da Câmara de Gaia.
A nova travessia sobre o Douro ficará a montante da Ponte D. Luís I, entre as pontes do Freixo (rodoviária) e de São João (ferroviária) e deverá estar concluída em 2025.
No período antes da ordem do dia, Cátia Meirinhos apresentou em detalhe a nova travessia, explicando que o projeto inicial, nomeadamente no que se refere à localização e comprimento, sofreu alterações devido aos condicionamentos impostos pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Na proposta que vai a concurso, a ponte terá uma extensão total de 625 metros, 300 dos quais sobre o rio, e um perfil transversal do tabuleiro de 21,50 metros, com separador central e duas faixas de rodagem com duas vias cada, uma ciclovia unidirecional em cada sentido, bem como, passeios.
Pelo PSD, Álvaro Almeida lamentou que a vereação tenha sido confrontada com algo já decidido, apontando críticas à forma como o processo foi gerido.
"Acho que o processo desta ponte está a correr muito mal", disse, indicando que a localização da ponte foi "claramente mal escolhida" e por isso teve de ser revista, o que teve implicações, por exemplo, nos custos, "três vezes mais" do que o valor de 12 milhões de euros, anunciado aquando da apresentação do projeto em 2018.
Para o social-democrata, em face da impossibilidade de construir à cota inicial, o projeto devia ter sido repensado, por exemplo, em vez de duas pontes, podia ter-se optado por colocar mais um tabuleiro na nova ponte do metro.
Pela CDU, Ilda Figueiredo considerou que houve "falta de transparência" e de debate público e democrático sobre um tema fundamental para a cidade, criticando a opção tomada pela maioria municipal.
Também a vereadora socialista Fernanda Rodrigues lamentou ter sido confrontada com uma solução final, sem que tenha havido um debate informado sobre questões como a localização ou o custo, salientando que o facto de estar inscrito no Plano Diretor Municipal (PDM) acentua a necessidade de discutir o projeto.
Em resposta às críticas da oposição, o independente Rui Moreira salientou que o projeto foi debatido várias vezes, nomeadamente aquando da votação do contrato com a GO Porto e, mais recentemente, no âmbito da discussão pública do PDM, onde também não houve qualquer reclamação.
"Nós precisamos ou não precisamos de uma ponte à cota baixa para ligar Gaia ao Porto. Nós queremos ou não queremos que a zona oriental tenha precedência nas decisões que nós coerentemente temos vindo a tomar. Eu sei o que quero, os senhores quererão de forma diferente. Nós queremos ou não queremos de uma vez resolver o problema que temos da hiperconcentração de trânsito no centro histórico? [...] mas se não querem, é simples", disse, indicando que levará o tema a reunião do executivo, em conjunto com a votação do novo PDM.