O elevador social que custa a subir. As crianças portuguesas com um pai imigrante, desempregado, que apenas completou o ensino básico ou oriundos de famílias monoparentais têm maior tendência para enfrentar a pobreza em adultos.
Esta é a conclusão do estudo “Nascer pobre é uma fatalidade?”, um complemento ao relatório anual “Portugal, Balanço Social”, um projeto da Iniciativa para a Equidade Social, realizado por investigadores da Nova School of Business and Economics (SBE), da Universidade Nova de Lisboa.
A transmissão intergeracional de fragilidade económica acontece por várias razões, apontam, como o “o acesso a educação de qualidade, oportunidades de emprego e outros fatores sociodemográficos”.
Segundo a investigação, os adultos cujo pai apenas completou o ensino básico são duas vezes mais afetados pela pobreza do que aqueles cujo pai tem o ensino secundário.
"Apenas uma em cada cinco pessoas cujo pai completou o ensino básico é diplomada no ensino superior. Esta percentagem é três vezes maior para os adultos cujo pai completou o ensino secundário", lê-se no documento, que indica ainda que um quarto dos adultos cujo pai era desempregado quando tinham 14 anos são pobres.
"Cerca de 22% dos adultos cujo pai era agricultor ou trabalhador não qualificado são pobres. Esta percentagem desce para 7% para aqueles cujo pai trabalhava enquanto especialista de uma atividade intelectual ou exercia uma profissão intermédia", concluíram os investigadores.
Os adultos oriundos de famílias monoparentais têm uma probabilidade de 20% de viverem na pobreza, percentagem que aumenta para 23% nas famílias numerosas.
Uma em cada quatro pessoas que, aos 14 anos, viviam num agregado com má situação financeira é pobre e quase um em cada cinco adultos que viviam numa casa arrendada aos 14 anos é pobre.
"Os adultos que aos 14 anos não viviam com o pai têm uma probabilidade de serem pobres de 17%. Esta probabilidade aumenta para 23% no caso em que o pai não mantinha o contacto", acrescentam os autores do estudo.
E, para os investigadores, não há indicação de que esteja a diminuir a transmissão intergeracional da pobreza.
“Uma comparação entre as gerações nascidas nas décadas de 60, 70 e 80 indica que os adultos que viviam, aos 14 anos, em agregados com boa situação financeira têm taxas de pobreza entre 11% e 13%, independentemente da década em que nasceram. Para os adultos que viviam em agregados com má situação financeira, as taxas de pobreza variam entre 22% e 24%. Assim, a diferença na taxa de pobreza dos adultos que viviam, aos 14 anos, em agregados com boa ou má situação financeira é sistematicamente de entre 11 e 12 pontos percentuais, independentemente da geração considerada”, referem.
A situação financeira do agregado também pode ser determinante na transmissão da pobreza. Uma em cada quatro pessoas que cresceram num agregado com uma má situação financeira é pobre. .
Da mesma forma, um em cada três adultos cuja família não conseguia satisfazer as suas necessidades de material escolar aos 14 anos é hoje pobre, enquanto nos adultos cuja família conseguia satisfazer estas necessidades a taxa de pobreza baixa para metade.
Os adultos cujas famílias não conseguiam garantir uma refeição proteica diária enfrentam uma taxa de pobreza de 22%, mais do dobro da verificada nas restantes famílias (10%).
A nacionalidade pode também influenciar a condição de pobreza. Um em cada quatro filhos de imigrantes é pobre.