A Fórmula 1 anunciou esta segunda-feira que chegou a acordo com o grupo General Motors (GM) e a marca Cadillac para a entrada de uma 11.ª equipa no campeonato em 2026. A equipa agora aceite é em tudo igual à que foi recusada no final de janeiro pelo detentor dos direitos comerciais da F1, desde a estrutura ao envolvimento da marca norte-americana.
Num comunicado publicado na página oficial do campeonato, a F1 alega que a General Motors e a TWG Global “alcançaram marcos operacionais” ao longo de 2024, tornando claro “o compromisso para nomear a 11.ª equipa GM/Cadillac” e que “a GM vai entrar como fornecedora de motores numa data mais tardia”.
O acordo comercial prevê a entrada da equipa apoiada pela General Motors em 2026, na condição de cliente de motores, enquanto é desenvolvido o motor híbrido para utilizar a partir de 2028 – segundo o projeto apresentado anteriormente. A equipa vai utilizar a estrutura criada pela Andretti em Silverstone e nos EUA, mas o nome Andretti não surge uma única vez no comunicado da Fórmula 1.
A aprovação da equipa da Cadillac e Andretti faz com que a F1 volte, em 2026, a ter mais do que 20 carros na grelha de partida, o que já não acontece desde 2016 – ano de entrada da Haas, uma equipa detida pelo norte-americano Gene Haas que, durante a estadia na Fórmula 1, já teve de recorrer ao patrocínio de um oligarca russo para se manter em operação.
A entrada desta 11.ª equipa foi aprovada em outubro de 2023 pela Federação Internacional do Automóvel (FIA), que abriu candidaturas para uma nova vaga na F1 – inicialmente a partir de 2025. A equipa foi lançada pela Andretti, lendária equipa de desportos motorizados nos EUA criada por Michael Andretti (filho de Mario Andretti, campeão do mundo de F1 em 1978), e a candidatura foi realizada em conjunto com a Cadillac.
Mas a equipa viu um acordo comercial ser negado pela F1 em janeiro. A governação da F1 é dividida entre a FIA, que trata de todos os assuntos desportivos, e a Formula One Management, detida pela Liberty Media, que detém os direitos comerciais da competição. A falta de acordo comercial significaria que os carros desta nova equipa nunca iriam ser mostrados nas transmissões televisivas, e que o bolo das receitas comerciais não seria dividido com a nova equipa - tornando-a financeiramente inviável, na prática.
Na rejeição de janeiro, a Fórmula 1 explicou que a nova equipa não acrescentaria valor ao desporto e, usando uma fórmula de avaliação nunca antes mencionada, alegou que a nova equipa não seria competitiva – um critério que, se aplicado às equipas atualmente na F1, poderia excluir pelo menos uma equipa, a Sauber (que se vai tornar Audi), já que esta ainda não marcou pontos em 2024.
Agora, depois de Michael Andretti se ter afastado a si mesmo da gestão da Andretti – detida pela TWG Global que é referida no comunicado desta segunda-feira -, todos os obstáculos parecem ter caído, e a F1 abre a porta a uma nova equipa norte-americana.
No comunicado da General Motors, o grupo de marcas norte-americanas refere-se à equipa como “Cadillac Formula 1” e diz que a formação está “no caminho para ser uma equipa completamente de fábrica pelo fim da década”.
Apesar da rejeição de janeiro, a Andretti continuou a colocar recursos no projeto, abrindo uma nova base de operações no Reino Unido, nas imediações da pista de Silverstone, ao mesmo tempo que constrói um novo quartel-general nos Estados Unidos.
A formação da equipa também se estendeu à contratação de mais engenheiros, incluindo até o ex-diretor técnico da própria F1, Pat Symonds, que também liderou a equipa técnica da Renault na conquista dos títulos de 2005 e 2006. A equipa cada vez maior tem ainda testado um protótipo no túnel de vento da Toyota, na Alemanha, e terá conseguido fazer testes de embate de um chassis para o carro de 2026.
A nova equipa deverá contratar o fornecimento de motores em 2026 e 2027 à Ferrari, e poderá ainda comprar à Scuderia a caixa de velocidades e partes da suspensão traseira. A marca italiana vai perder uma equipa-cliente em 2026, quando a Sauber vai completar a transição para Audi e passar a ter motores alemães, pelo que é a principal candidata a fornecer a nova equipa.
Um fator que não terá sido irrelevante neste processo é a investigação do Departamento de Justiça dos EUA à F1 por práticas anti-concorrenciais na rejeição da Andretti. A investigação surgiu depois de Michael Andretti ter feito lóbi no Congresso, e seis senadores (de ambos os partidos) escreverem uma carta a pedir uma investigação. Uma comissão da Câmara dos Representantes também tinha lançado uma investigação própria ao caso.
As extensas e públicas hesitações das restantes equipas de F1 em aceitar um novo concorrente, e dividir com a nova equipa o bolo das receitas dos direitos comerciais, poderiam ser uma das provas de uma prática anti-concorrencial. No entanto, com a equipa a ser aceite pela F1, deixa de haver prática anti-concorrencial a investigar.