O sindicato ferroviário acusou este sábado a CP de "intimidar os trabalhadores com mentiras", após o anúncio da greve de três dias dos trabalhadores das bilheteiras e revisores, pedindo uma resolução para os problemas que afetam o setor.
"O Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial Itinerante (SFRCI), em representação dos trabalhadores ferroviários da carreira comercial, carreira de transportes e chefias diretas da CP, no âmbito desta jornada de luta, teve conhecimento do comunicado de imprensa emitido pelo Conselho de Administração, onde vem intimidar os trabalhadores com mentiras", lamentou, em comunicado, a estrutura sindical.
A administração da CP classificou este sábado a greve dos trabalhadores das bilheteiras e revisores, que começa no domingo, como "desproporcional, injusta e inoportuna", destacando o esforço para revitalizar o setor.
O SFRCI disse que desde 19 de maio, quando entrou o pré-aviso de greve, a administração não solicitou qualquer reunião com os representantes dos trabalhadores, continuando sem explicar e resolver os problemas que afetam os ferroviários.
"[...] O comunicado do Conselho de Administração não responde a nenhum dos muitos problemas que afetam os trabalhadores ferroviários operacionais", vincou.
Na nota hoje divulgada, a CP -- Comboios de Portugal garantiu ainda que, nos últimos dois anos, tem feito um "esforço enorme" para revitalizar o setor ferroviário, através da oferta de novos serviços e da recuperação do material circulante, lembrando ainda que a pandemia de covid-19 gerou quebras na receita superiores a 90%.
"Mesmo assim, e ao contrário do que aconteceu noutras empresas do setor dos transportes, a CP não dispensou um único trabalhador, não recorreu ao "lay-off", nem deixou de cumprir as suas obrigações", notou.
A empresa apelou também ao "profissionalismo" dos trabalhadores e das ORT [organizações representativas dos trabalhadores] para que seja possível manter o diálogo "num ambiente de paz social".
A greve que os trabalhadores das bilheteiras e revisores da CP iniciam domingo pode causar já hoje ao final do dia perturbações na circulação de comboios, que a empresa admite que sejam "fortes" durante os três dias do protesto.
A CP já tinha alertado para que no domingo, segunda e terça-feira -- os três dias da greve convocada pelo SFRCI -- "podem ocorrer fortes perturbações na circulação de comboios, a nível nacional".
Adicionalmente, adverte ser "expectável que se verifiquem perturbações" nos dias anterior e seguinte ao protesto, designadamente "no final do dia 5 de junho [este sábado] e nas primeiras horas da manhã de dia 9 de junho [quarta-feira]".
Em comunicado, o sindicato apontou a greve nacional como a "última forma de luta" face à "recusa de diálogo e a inoperância, há vários meses, na resolução dos problemas dos trabalhadores por parte do Conselho de Administração da CP".
Os trabalhadores protestam contra a proposta de regulamento de carreiras apresentada pela CP, que dizem prever "um aumento da polivalência de funções" e a "junção e extinção de categorias profissionais", considerando que tal "vai pôr em causa postos de trabalho presentes e futuros".
Reclamam ainda a "melhoria do salário base, que atualmente está no limiar do salário mínimo nacional", e a "reposição das perdas salariais sofridas pelos ferroviários operacionais que foram contagiados pela pandemia provocada pela covid-19, bem como pelos que tiveram de cumprir confinamento profilático por estarem em contacto com colegas infetados".
O SFRCI acusa a CP de "violação do acordo de empresa em vigor" e exige a "aplicação do acordo assinado com o Ministério das Infraestruturas em 2018, relativo à certificação do agente de acompanhamento".
Finalmente, a greve visa condenar o "abuso do poder disciplinar" que os trabalhadores dizem vigorar na CP.
Segundo a CP, quem já tiver bilhetes para viajar em comboios dos serviços Alfa Pendular, Intercidades, Internacional, InterRegional e Regional poderá solicitar o reembolso do valor total do bilhete adquirido ou a sua revalidação, sem custos.