O Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD) de Moçambique admite a existência de “um número considerável” de pessoas afetadas pelas inundações na província de Maputo, onde a chuva cai insistente e fortemente desde a última quarta-feira.
Em declarações à Renascença, o porta-voz do INGD descreve um cenário dramático, com as autoridades, nomeadamente as equipas da Unidade de Proteção Civil a resgatarem “um número considerável” de pessoas, muitas confinadas aos telhados das próprias casas cercadas pela água.
“Não posso precisar agora, pois estamos a trabalhar e, ao mesmo tempo, a identificar aquilo que são as zonas mais afetadas, mas acreditamos que seja um número considerável tendo em conta a população que reside naquela zona”, afirma Paulo Tomás.
O mesmo responsável confirma que uma grande parte da população do município de Boane está isolada e terá mesmo perdido os seus bens, embora, neste momento, a prioridade seja outra.
“Neste momento a nossa preocupação é salvar vidas humanas”, confirma, acrescentando que enquanto procedem à “acomodação destas pessoas, vamos também fazendo um levantamento das necessidades, para desenharmos o mais rapidamente um plano de resposta”.
O porta-voz INGD fala mesmo em “tragédia humanitária”, tendo em conta “a dimensão das inundações”.
Questionado sobre a capacidade de resposta para chegar a tantos pedidos, Paulo Tomás garante que está a ser feita a gestão, de acordo com “a disponibilidade dos recursos e bens que temos, para dar assistência e garantirmos uma rápida assistência às comunidades”.
Desde quarta-feira que se assiste à queda de uma chuva torrencial, como não se assistia há pelo menos duas décadas. De África do Sul à Suazilândia, as descargas não param aumentando o risco de inundações na região.
“As previsões da Direção Nacional de Gestão de Recursos Hídricos, fazem uma comparação tendo em conta as cheias que tivemos no ano 2000 e que foram uma das maiores que atingiram o nosso país”, começa por explicar Paulo Tomás.
“Estamos também a receber chuvas provenientes dos países vizinhos e tivemos indicação que vamos receber uma maior quantidade de água”, por isso, acrescenta, “é preciso que a barragem dos Pequenos Libombos continue a fazer as descargas”.
Face a estas previsões, o INGD vai “redobrar” os seus esforços para “a retirada das pessoas dessas zonas de risco”.
Num relato feito à Renascença, a partir de Moçambique, o jornalista Arão Cuambe, confirma que milhares de pessoas perderam tudo o que tinham. Em Boane, a 30 quilómetros de Maputo, as pessoas continuam à espera de socorro no telhado das suas casas.
“Isto acontece principalmente na região de Maputo, concretamente em Boane, há, na verdade, muita gente que clama por apoio, pessoas que se encontram desalojadas, algumas encontram-se nos telhado das suas casas pedindo apoio, um apoio que demora a chegar devido às insuficiências do Instituto Nacional de Gestão de Desastres de Moçambique que tem poucos meios para socorrer”, conta.
Segundo o repórter, “há milhares de pessoas que, neste momento, estão a precisar de ajuda, não só do ponto de vista de acomodação, como também de ajuda alimentar”.
Nesta altura do ano, são frequentes as inundações em Moçambique, já que se vive a época das chuvas. Apesar de tudo, a pluviosidade está acima do que é considerado normal pelas autoridades
Segundo o Instituto de Meteorologia do país, desde quarta-feira, a chuva acumulada ultrapassou os 170 milímetros, mais que a média estimada para todo o mês de fevereiro na região de Maputo.
As previsões não são animadoras. A chuva intensa deverá manter-se até domingo, com as autoridades a pedirem à população que reside em zonas ribeirinhas, que abandonem as zonas de maior risco.