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Um edifício onde funcionavam os caminhos-de-ferro moçambicanos, na localidade de Tica, a noroeste da cidade da Beira, está a servir provisoriamente de centro de acolhimento às vítimas do ciclone Idai.
É aqui que se concentram algumas dezenas de pessoas que vão tentando sobreviver desde a passagem do ciclone Idai, a 14 de março. Têm pequenos fogareiros e alguns jerricans para colocar água, que não se sabe onde vão buscar.
Muitas mães vão ficando por aqui com os filhos à espera de ajuda. "Aqui estamos a viver mal", desabafa Joana à Renascença. Diz-nos que não tem um telhado para viver, falta água e comida e há crianças a passar fome.
Domingos perdeu a mulher e o filho durante o ciclone. "Nessa noite, o vento veio forte. Eu estava com a minha mulher e o meu filho e, de repente, a casa destruiu-se e a minha esposa faleceu com o filho", conta.
Domingos conseguiu nadar e subir a uma árvore. "Fiquei na árvore e consegui ajuda para chegar aqui, mas há muitas pessoas que morreram pelo caminho", diz, lembrando aqueles que foram levados pela força das águas.
Os relatos de Joana e Domingos são apenas dois entre os das milhares de pessoas que estão a tentar sobreviver às dificuldades trazidas pelas cheias.
Em Tica, na região da Beira, são muitos os que permanecem à beira da estrada. O motivo é simples: a estrada é construída numa zona mais elevada em relação a tudo o resto. O resto são planícies, muitas delas ainda bastante alagadas, onde a água ainda deverá demorar muito tempo a baixar.
Nesta zona há também muitas plantações de canas de açúcar. Felizmente, dizem os habitantes, a cana já tinha sido colhida. Ainda assim, as pessoas anteveem muita fome nos próximos tempos nesta região de Moçambique.
O último balanço das vítimas do ciclone Idai no país, sem contar com o Zimbabué e o Malawi, aponta para 447 mortos. Há ainda 694 mil pessoas afetadas, das quais mais de 6 mil pertencem a grupos vulneráveis (idosos, grávidas e doentes). Mais de 128 mil pessoas já foram salvas.