Pediatra. “Usar as vacinas como quem usa um inseticida não é realista”
07-09-2021 - 11:10
 • Marta Grosso , Anabela Góis (entrevista)

Jorge Amil Dias reage na Renascença à declaração do infeciologista Jaime Nina, para quem não será possível controlar o vírus sem vacinar todas as crianças, incluindo as menores de 12 anos.

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O presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos considera prematuro falar em vacinação de crianças com menos de 12 anos. “Não é o momento para fazer essa discussão, muito menos na ausência de elementos sólidos de evidência”, diz à Renascença.

Jorge Amil Dias reage, assim, às declarações do infeciologista Jaime Nina, que defende a vacinação de todas as crianças assim que possível e rapidamente para “controlar o vírus”.

“Alimentar na opinião pública essa esperança de que usamos as vacinas como quem usa um inseticida e vamos matar o bicho, não só não é realista como cria pânico”, responde o pediatra.

Na opinião de Amil Dias, não é possível eliminar o novo coronavírus nem que todo o mundo esteja vacinado e acreditar nisso é ter “esperanças românticas”.


O que tem a dizer sobre a possibilidade de vacinar as crianças com menos de 12 anos?

Concordo com duas das palavras que o meu colega mencionou: eficácia e segurança. É disso que se trata. Quanto ao resto, já percebemos – aparentemente, quase todos – que a Covid não é uma doença erradicável como foi a poliomielite ou a varíola, porque simplesmente não se consegue erradicar.

Alimentar na opinião pública essa esperança de que usamos as vacinas como quem usa um inseticida e vamos matar o bicho, não só não é realista como cria um pânico e cria uma ansiedade enorme na população que não ajuda nada à realidade dos factos.



Mas faz algum sentido pensar em vacinar crianças?

Faz sentido fazer investigação, demonstrar segurança, demonstrar eficácia e demonstrar na população que é visada com um programa de vacinação. Devem ser estas as regras que devem presidir e foi na base dessas regras que argumentámos a questão de vacinação de adolescentes. E deve ser nessa base que as coisas devem ser decididas e não em esperanças românticas de que conseguimos eliminar o vírus porque vacinamos toda a gente no mundo.

Infelizmente, isso não parece ser viável e seguramente não é o momento para fazer essa discussão, muito menos na ausência de elementos sólidos de evidência, de demonstração, de trabalhos experimentais e depois em grupos populacionais muito selecionados.

Essa discussão, provavelmente, terá o seu momento em determinada altura, mas seguramente não é agora, porque não temos dados de eficácia, de segurança e de benefícios para a população.

Já há pelo menos duas vacinas a ser testadas em crianças. Já há resultados?

Os resultados, ainda que preliminares, que possam existir, têm de ser sempre submetidos ao escrutínio da revisão interpares. É sempre muito atrevido e pouco sensato divulgar resultados só porque acabaram de sair do computador ou da análise estatística.

É necessário que toda a interpretação e validação dos resultados seja feita e apreciada por outros cientistas independentes que analisem esses dados e, portanto, só nessa fase é que fará sentido discutir esses ditos resultados. Ainda não temos dados sólidos sobre isso.


Segundo o infeciologista Jaime Nina, enquanto não se vacinar todas as crianças, não será possível controlar a pandemia.

Os menores com menos de 12 anos representam cerca de “um milhão de portugueses que podem transmitir o vírus”, pelo que “enquanto isso não estiver controlado, não é possível controlar o vírus”, defende, em declarações à Renascença.

Segundo a “task force”, até 31 de agosto 75% dos jovens entre os 12 e os 17 anos já estavam vacinados com a primeira dose da vacina contra a Covid-19.