Guterres distingue professora afegã dedicada à educação de meninas refugiadas
15-09-2015 - 08:06

“Se educamos raparigas, educamos gerações”, afirma Aqeela Asifi. Apenas uma em cada duas crianças refugiadas consegue frequentar a escola primária e apenas uma em cada quatro frequenta o ensino secundário.

O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) distinguiu esta terça-feira uma professora afegã que se dedicou à educação de raparigas refugiadas no Paquistão. Aqeela Asifi, de 49 anos, recebeu o prémio Nansen para os Refugiados 2015.

“Apesar dos escassos recursos e dos desafios culturais, Asifi conseguiu que perto de mil refugiadas tenham concluído a educação primária”, afirma o comunicado do organismo chefiado por António Guterres.

Aqeela Asifi é professora de raparigas afegãs refugiadas na aldeia de Kot Chandana, em Mianwali, no Paquistão. O prémio reconheceu a “dedicação corajosa e incansável” da docente à missão de educar raparigas afegãs.

“Pessoas como Aqeela Asifi compreendem que as crianças refugiadas de hoje vão determinar o futuro dos seus países e o futuro do mundo. Investir na educação dos refugiados permitirá às crianças romper o ciclo de instabilidade e conflito”, afirmou Guterres.

Asifi era já professora quando foi obrigada a fugir de Cabul, com a família, em 1992. Em Kot Chandana, não existiam escolas para raparigas, devido às tradições culturais que mantinham as mulheres em casa e foi aí que começou a ensinar umas poucas raparigas, numa escola improvisada sob uma tenda.

Aqeela Asifi defende que é preciso compreender que educar as raparigas desta geração vai transformar as oportunidades da geração seguinte.

“Quando se têm mães que frequentaram a escola, quase de certeza as futuras gerações serão educadas. Por isso, se educamos raparigas, educamos gerações. Desejava que um dia o Afeganistão fosse recordado não pela guerra, mas pelo elevado padrão de educação”, afirmou a professora.

O Afeganistão é a maior e mais longa crise de refugiados no mundo. Cerca de 2,6 milhões de afegãos vivem hoje no exílio e mais de metade são crianças. Dados mundiais indicam que apenas uma em cada duas crianças refugiadas consegue frequentar a escola primária e apenas uma em cada quatro frequenta o ensino secundário.

Para os refugiados afegãos no Paquistão, esta é uma realidade ainda mais longínqua: 80% das crianças não frequenta a escola.

O acesso à educação é vital para o êxito de uma repatriação, reinstalação ou integração local dos refugiados.

O prémio Nansen para os Refugiados do ACNUR distingue o trabalho desenvolvido em prol das pessoas e comunidades forçadas a abandonar os seus países. Entre os laureados contam-se a antiga primeira-dama norte-americana Eleanor Roosevelt, a antiga primeira-dama moçambicana Graça Machel e o cantor lírico italiano Luciano Pavarotti.

A cerimónia de entregue do prémio está marcada para dia 5 de Outubro, em Genebra.