O presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social (CNIS), padre Lino Maia, compreende que “haja manifestações populistas” nas próximas eleições, mas afirma que “o povo sabe ver e há-de fazer uma boa escolha”.
Em declarações à Renascença, Lino Maia defende que o eventual crescimento do populismo em Portugal “é sinal de que nem sempre aqueles que têm mais obrigações inspiram confiança e moderação”.
“Nós precisamos de apostar na politica como um serviço à comunidade e não como um reinar ou um aproveitamento”, adverte.
O sacerdote acredita que nos “vários partidos há pessoas com dignidade, e respeitáveis, que saberão propor os seus argumentos e as suas razões”. “E, fundamentalmente, acredito no povo. O povo não é só quem mais ordena; o povo - pegando numa expressão dos anos 74-75 - o povo é sereno, o povo sabe ver e sabe escolher."
O presidente da CNIS prefere não dizer se está preocupado com os avanços eleitorais de partidos mais populistas, mas reforça a ideia de que “o povo tem sempre razão, e, portanto, se optar por expressões ditas populistas é porque de facto quer que haja uma mudança”.
“Às vezes, é preciso passarmos pelo deserto para chegarmos à terra prometida, mas fundamentalmente, eu acredito no povo”, reafirma.
Sobre a crise politica instalada, o sacerdote entende que “perante o panorama existente, a única solução era esta de haver eleições antecipadas”.
“Não duvido um único segundo da seriedade do senhor primeiro-ministro, mas não restava outra solução”, acrescenta.
Ainda assim, Lino Maia diz que “isto provoca alguma instabilidade ou algum adiamento, porque vamos estar vários meses de espera, pois só lá para o verão é que teremos um novo governo e isto provoca de fato instabilidade”.
Para o sector social, o padre Lino Maia reclama um entendimento ao nível dos acordos de cooperação antes da dissolução da Assembleia da República porqu,e caso contrário, “a situação terá grande impacto no sector”.
O presidente da CNIS acredita que vai ser possível “chegar a uma boa solução, a uma solução aceitável até final de novembro” e relembra ao Governo que é necessário “ter em atenção o aumento do salário mínimo, a inflação especifica que neste setor é de facto mais elevada que a média nacional, pois nós consumimos aquilo que mais encarece; e depois também caminharmos para a tal comparticipação equitativa de 50 por cento do estado e de 50 por cento de outras fontes de financiamento para as instituições”.
“Isto significa que é preciso ter uma atualização significativa dos acordos e eu vi da parte do Governo bastante sensibilidade para isso, por isso acredito que vamos chegar a um bom porto”, antecipa.
A Igreja é quem mais assume a proteção social
Estas são algumas das preocupações que o padre Lino Maia vai comunicar aos bispos portugueses na quarta-feira, no decurso da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
Nesse dia, os responsáveis são debater “a situação social do país e das instituições de solidariedade social da igreja”.
Para além do conjunto de preocupações inumeradas, o padre Lino Maia pretende também sublinhar “a dimensão da ação social da Igreja em Portugal que é de facto muito importante e muito boa”, pois “é a ação social da Igreja que inspira toda a outra ação social".
"É, no fundo, a Igreja que mais tem assumido a proteção social que para já não está é considerada como um direito universal, mas que a Igreja tem assumido como tal."
“Quero também sublinhar que, apesar de, por vezes, haver algumas dúvidas, a Igreja não se desvia e persiste até porque a ação social da igreja é, de facto, também fonte da sua grande credibilidade."
"A Igreja não pode limitar-se ao culto e à evangelização, porque a própria ação social é simultaneamente culto e é simultaneamente evangelização”, remata o padre Lino Maia.