Os Estados Unidos da América (EUA) e a União Europeia (UE) pediram esta quarta-feira uma "redução sem condições" da tensão no norte de Kosovo, onde o exército sérvio tem vindo a reforçar a sua presença na fronteira.
"Pedimos a todos máxima contenção e que tomem medidas imediatas para uma redução incondicional da situação", afirmou um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA e uma porta-voz da UE, em comunicado de imprensa divulgado conjuntamente.
Tanto Bruxelas como Washington pediram às partes -- Sérvia e Kosovo -- para se "absterem de qualquer provocação, ameaça ou intimidação" e referiram estar "a trabalhar com o Presidente [sérvio, Aleksander] Vucic, e com o primeiro-ministro [kosovar, Albin] Kurti, para encontrar uma solução política que permita aliviar as tensões e conseguir manter a estabilidade, segurança e bem-estar de todas as populações locais".
Os dois porta-vozes lembraram também que podem supervisionar o respeito pelos direitos humanos no território através da missão europeia na região, a Eulex.
O Kosovo fechou esta quarta-feira o principal posto fronteiriço com a Sérvia depois de os sérvios terem erguido barricadas no local, numa das piores crises dos últimos anos na região.
Em novembro passado, 600 membros da minoria sérvia do Kosovo, que faziam parte das forças policiais e da administração pública, demitiram-se na sequência do anúncio de Pristina de que ia proibir a circulação de veículos com matrículas provenientes da Sérvia.
A tensão agravou-se nos dias seguintes e, em 10 de dezembro, várias centenas de sérvios do Kosovo montaram bloqueios nas estradas do norte de Kosovo, paralisando o tráfego em dois pontos importantes da fronteira com a Sérvia.
A tomada de posição de Bruxelas e dos EUA foi divulgada depois de o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Kosovo ter enviado uma carta aos Estados-membros da UE na qual pediu para serem adotadas medidas que obriguem a Sérvia a colaborar na resolução pacífica das tensões.
No documento, o Governo kosovar pede à comunidade internacional que encoraje a Sérvia a voltar ao diálogo e forneça um registo cronológico dos últimos incidentes no norte da região.
"No melhor dos casos, a Sérvia está a tentar deliberadamente desestabilizar o Kosovo para impedir o avanço do diálogo, especialmente no contexto do novo plano proposto pela UE (apoiado pela França e Alemanha) para normalizar as relações", refere a carta, citada pelo portal de notícias Kosovo Online.
O Governo kosovar refere ainda que a escalada do conflito lembra o 'modus operandi' que as autoridades sérvias costumavam usar na década de 1990.
A carta menciona não só os distúrbios registados desde a construção de barricadas pela minoria sérvia em Mitrovica, cidade do norte do Kosovo, até aos ataques a jornalistas da imprensa kosovar.
"Condenamos veementemente os ataques a jornalistas por extremistas do norte do Kosovo. Nas últimas três semanas, vários jornalistas foram repetidamente atacados por grupos criminosos que tentam desestabilizar o Kosovo", secundou a vice-primeira-ministra e ministra dos Negócios Estrangeiros kosovar, Donika Gërvalla-Schwarz, numa mensagem publicada na rede social Twitter.
"A comunidade internacional deve intervir urgentemente em Belgrado e proteger a imprensa livre. Isto tem de acabar. Agora", acrescentou a ministra.
Também o Governo alemão expressou hoje "grande preocupação" com a situação e pediu "ações construtivas" que levem ao desbloqueio dos postos fronteiriços fechados.
Por seu lado, a Rússia referiu-se hoje à crise como "um cenário muito perigoso", tendo o embaixador russo em Belgrado, Alexander Botsan-Kharchenko, admitido na terça-feira que, a qualquer momento, pode haver uma provocação que faça deflagrar um novo conflito armado.
Em conferência de imprensa, o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, acrescentou, hoje de manhã, que o Kremlin está a seguir de perto a situação e que mantém apoio à Sérvia.
O Kosovo, habitado sobretudo por albaneses étnicos, tornou-se unilateralmente independente da Sérvia em 2008, na sequência de uma guerra entre independentistas e guerrilheiros de Belgrado, mas a Sérvia nunca reconheceu a independência do território.