A toma diária de aspirina para prevenir ataques cardíacos está recomendada apenas para pessoas que já tenham sofrido eventos cardiovasculares, como AVC ou um enfarte, diz à Renascença o cardiologista Ricardo Fontes de Carvalho.
O esclarecimento surgiu esta quarta-feira, depois de especialistas norte-americanos terem desaconselhado a população com mais de 60 anos de ingerir aspirinas diariamente, tendo em conta os efeitos adversos como hemorragia interna.
Fontes de Carvalho reconhece que já recebeu telefonemas de pacientes seus "que não estão a perceber a mensagem", mas clarifica a conclusão a que os especialistas europeus já tinham chegado: "quem já teve um AVC ou um enfarte, deve continuar a fazer a aspirina. O que isto, no fundo, vem dizer é aquilo que os europeus já diziam: não faz sentido tomar a aspirina só por prevenção", remata o cardiologista do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia-Espinho e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Esta terça-feira, especialistas norte-americanos adiantaram que a ingestão diária de aspirina para reduzir o risco de ataques cardíacos não deverá ser recomendada para pessoas com 60 ou mais anos, nos Estados Unidos da América.
“Usar aspirina diariamente pode ajudar a prevenir ataques cardíacos e de acidente vascular cerebral em alguns [casos], mas também pode causar efeitos adversos graves, como hemorragia interna”, disse John Wong, membro da ‘task force’ dos Serviços Preventivos dos EUA, citado em comunicado.
Por seu lado, as pessoas de 40 e 59 anos em risco, mas sem histórico de doenças cardiovasculares, devem tomar a decisão de começar o tratamento de forma individual, junto dos médicos, acrescentaram os especialistas dos EUA.
“É importante que as pessoas entre os 40 e os 59 anos que não têm histórico de doenças cardíacas conversem com o seu médico para decidirem em conjunto se é correto ingerirem aspirina”, adiantou John Wong.
O comunicado da ‘task force’ dos EUA acrescenta que as novas recomendações não se aplicam a pessoas que tomam aspirina depois de já terem sofrido um AVC ou um ataque cardíaco.
É estimado que cerca de 600 mil norte-americanos sofrem um primeiro ataque cardíaco e que cerca de 610 mil sofrem o primeiro AVC todos anos.
O uso da aspirina para reduzir o risco de doenças cardiovasculares costuma ser iniciado de forma espontânea pelos norte-americanos. De acordo com um estudo de 2017, eram 23,4% que usavam aspirina.