O ministro da Defesa Nacional sustentou esta quarta-feira que a União Europeia (UE) "não pode ser "naif" (ingénua)" face às potências Rússia e China nem "deixar emergir perigosos vazios de poder" na sua vizinhança, "a 360 graus".
"Gostaria de sublinhar que a Europa não pode ser 'naif´ ao lidar com grandes potências como a Rússia e a China", defendeu Gomes Cravinho, vincando ainda que a UE não deve "correr o risco de ter ângulos mortos [de visão] na segurança" da sua "vizinhança", nem "deixar emergir perigosos vazios de poder perto da Europa".
O governante português intervinha na quarta de um ciclo de conferências virtuais sobre a Europa pós-pandemia de Covid-19 organizado pela República Checa - que vai liderar a UE no segundo semestre de 2022, e à qual se juntou, nesta ocasião, a Presidência Portuguesa do Conselho da UE.
"Tenho a forte crença de que a abordagem a 360 graus faz todo o sentido em termos estratégicos para todos. Não é só uma questão de solidariedade, Não devemos correr o risco de ter ângulos mortos na segurança da nossa vizinhança. Não devemos deixar emergir perigosos vazios de poder perto da Europa", afirmou.
Gomes Cravinho declarou compreender "que alguns países europeus" estejam "particularmente focados na gestão de uma Rússia mais assertiva e agressiva", além de ser sabido que os "aliados norte-americanos estão cada vez mais preocupados com a emergência da China como forte concorrente", no evento dedicado às "relações transatlânticas" no contexto da nova administração dos Estados Unidos da América (EUA), aprofundamento da Defesa europeia, relações com Rússia e "desafios e oportunidades da China".
"Estes atores [Rússia e China] não estão só ativos no Leste ou no Oriente. Também estão cada vez mais ativos no Sul e no Oeste - em África e no [mar] Mediterrâneo, bem como no [oceano] Atlântico. Gostaria de sublinhar que a Europa não pode ser "naif" ao lidar com grandes potências como a Rússia e a China. Genericamente, os europeus precisam de ter uma consciência mais profunda dos seus interesses estratégicos em termos das implicações de segurança e Defesa: novas tecnologias, resiliência de infraestruturas críticas, gestão de reservas estratégicas e desenvolvimento de capacidades estratégicas", continuou.
Para o ministro da Defesa, trata-se de "um processo e está em movimento" e "a UE tem a ganhar com a sua riqueza de experiências diversas [dos 27 estados-membros], no empenhamento de forças e suas especializações".
"Devemos ter em mente que as ameaças são interdependentes e nos afetam a todos", alertou, exemplificando com a crise de refugiados de 2016, "maioritariamente devida a conflitos armados em África e no Médio Oriente e que não afetou só o sul da Europa", mas toda a UE, "alimentando ainda racismos e populismos".
"É uma tarefa exigente encontrar chão-comum entre 27 com diferentes histórias e geografias, algo que também é verdade para a NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte), com 30 estados-membros (21 da UE), ou para qualquer aliança. A perspetiva de ter de defender os nossos valores e interesses sozinhos é muito pior. Acho que todos concordamos que os países europeus têm de trabalhar em conjunto, muitas vezes olhando para lá das suas vizinhanças mais próximas", disse.