A Polícia Civil brasileira vai solicitar uma perícia de leitura labial para apurar se o português Rafael Ramos, do Corinthians, dirigiu mesmo um insulto racista a Edenilson, do Internacional de Porto Alegre, no sábado.
Em declarações ao "Globoesporte", a delegada Ana Luiza Caruso, da Polícia Civil de Porto Alegre, revela que a perícia de leitura labial é "mais uma certeza", dado que já haverá indícios do crime de injúria racial.
"Vamos ver se o Instituto-Geral de Perícias nos dá uma clareza maior acerca da leitura labial. Mas igual, indícios da autoria e do crime a gente já tem, porque ficou quase inequívoco (a injúria). Vamos tentar ter mais uma certeza. Até porque o Edenilson não iria inventar um fato grave como esse", comenta a porta-voz da polícia judiciária.
O caso diz respeito ao empate (2-2) do Corinthians, de Vítor Pereira, em Porto Alegre. Edenilson, da equipa da casa, diz que Rafael Ramos chamou-o de "macaco" ("macaco, c******"), aos 75 minutos. O jogo parou durante cerca de quatro minutos. No final da partida, o defesa português foi detido, embora tenha sido libertado após pagamento de fiança, no valor de 10 mil reais (1.896 euros à taxa de conversão atual).
Rafael Ramos nega insulto racista, Edenilson insiste
Rafael Ramos garante ter "consciência e cabeça limpas" e que o caso não passou de um mal entendido, provocado pela diferença de sotaque.
"Não fui, não sou e nunca serei racista. (...) Fui explicar-me ao meu colega de profissão. Sempre me pautei por uma postura correta em toda a minha carreira e não iria ser de outra forma agora", escreveu no Instagram.
Segundo o relatório do árbitro, o português afirma ter dito "f***-**, c******". O diretor de futebol do Corinthians, Roberto de Andrade, revelou aos jornalistas que Rafael Ramos tinha dito "mano, c******".
Nas redes sociais, Edenilson insiste que Rafael Ramos o insultou.
"Eu sei o que ouvi, realmente eu não reagi provavelmente da forma que deveria, pois foi a primeira vez que isso aconteceu comigo e me incomoda o facto de ficar chamando atenção de outra forma que não seja jogando futebol", escreveu o capitão do Internacional.
Edenilson relata que procurou Rafael Ramos, no final do jogo, na expectativa de receber um pedido de desculpas, que não chegou.
"Afinal, todos erramos e temos direito de admitir, no meu modo de ver as coisas. Mas o mesmo [Rafael Ramos] continuou a dizer que eu havia entendido errado. Eu não entendi errado, o procurei pelo respeito que tenho por alguns integrantes do Corinthians e para que ele pudesse ter uma chance de se redimir", acrescentou o médio, no Instagram.
De acordo com o presidente do Internacional, Alessandro Barcellos, só depois da conversa com Rafael Ramos é que Edenilson decidiu apresentar queixa contra o lateral-direito português, de 27 anos.
Corinthians e Ramos colaboram com autoridades
Os dois clubes, Corinthians e Inter, reagiram ao caso em comunicado.
A equipa de Rafael Ramos sublinha que "não compactua com o racismo", contudo, assinala que a versão do defesa português difere da acusação.
"Clube e atleta continuarão a colaborar com as autoridades, certos de que tudo será esclarecido o mais rapidamente possível", pode ler-se.
O clube de Edenilson classifica o caso de "lamentável" e "inadmissível".
"Não há espaço para o racismo em nossa sociedade. O Clube do Povo repudia todo e qualquer ato de preconceito e apoia o seu atleta", lê-se.