"Irão não poderá deixar de responder" à morte de líder do Hamas
31-07-2024 - 19:24
 • Pedro Mesquita

A Renascença falou com Sepideh Radfar, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e diretora do Centro de Iranologia sobre as implicações do assassinato de Ismail Haniyeh. O novo Presidente do Irão acusa Israel de ter eliminado o líder politico do Hamas, num ato que classifica de "terrorista" e "cobarde". Ismail Haniyeh foi assassinado em Teerão, pouco depois de ter assistido - como convidado - à tomada de posse de Massoud Pezeshkian. Israel não reivindicou o ataque.

"O Irão não poderá deixar de responder" ao assassinato do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, diz à Renascença Sepideh Radfar, uma iraniana a viver em Portugal há 30 anos.

A professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e diretora do Centro de Iranologia não tem dúvidas de que haverá uma retaliação. Considera que o Irão não poderá deixar de atacar Israel: "Quanto mais não seja, pela própria imagem do Estado perante o povo iraniano, tem que responder", afirma.

Sepideh Radfar diz à Renascença que tem seguido atentamente todas as notícias que chegam do seu país e sublinha a promessa iraniana de firmeza, com o líder do país a dizer que "o inimigo vai arrepender-se do ato terrorista que cometeu".

Esta professora universitária em Portugal acredita que sim, que o Irão irá atacar Israel. Sepideh Radfar considera que "o Irão, agora, não está em situação de poder esquecer, ou não dar importância áquilo que aconteceu...ao assassinato do líder do Hamas em Teerão, em território iraniano".

Até porque, sublinha, "Ismael Haniyeh era convidado do Estado iraniano, participou na cerimónia de posse do novo Presidente iraniano, Masoud Pezeshkian. O Irão não poderá deixar de responder. Quanto mais não seja, pela própria imagem do Estado perante o povo iraniano, tem que responder".

Ainda assim, Sepideh Radfar não acredita que venha a acontecer uma guerra aberta entre Israel e o Irão: "Receio existe, mas eu acredito que o Irão - como acontece desde início deste conflito - já provou várias vezes que não tenciona ter uma guerra regional. Benjamin Netanyahu, pelo contrário, quer fazer uma provocação completa. Por um lado, fez um ato terrorista anteontem, no Líbano, em Beirute, e agora em Teerão. Isto significa uma provocação direta para implicar o Irão neste conflito, que existe desde outubro em Gaza", conclui esta docente iraniana a viver em Portugal.

Noutro plano, já depois da cerimónia de tomada de posse, o novo Presidente do Irão reuniu-se com Haniyeh e terá assegurado ao líder do Hamas a firmeza de Teerão no apoio ao povo palestiniano, adianta Sepideh Radfar à Renascença. E quando se diz “apoio ao povo palestiniano”, admite, isso significará - no caso de Masoud Pezeshkian - a promessa de um apoio firme, também, ao próprio Hamas.

O que esperar da politica externa iraniana, com Masoud Pezeshkian?

Muitos são os que olham para Masoud Pezeshkian como um "moderado". Sepideh Radfar diz, contudo, que não se deve esperar que o novo Presidente do Irão tenha nos seus planos uma alteração da política externa relativamente ao conflito israelo-palestiniano.

"Acho que não. Há alguns dias estamos a seguir todos os discursos oficiais de Pezeshkian, o novo Presidente iraniano e sobressai a ideia de continuação, de continuar a dar apoio à posição iraniana nesta questão sensível. Não vamos esquecer que a situação do povo palestiniano é uma questão sensível para o Estado iraniano desde a revolução iraniana...ou seja, desde 1979. O Estado iraniano acredita que o povo palestiniano é um povo reprimido, no seu próprio território, por um outro povo considerado ocupante."

A diretora do Centro de Iranologia de Lisboa também não acredita que o Hamas tenha sido decapitado, depois da morte do seu líder.

"Não acredito. O Hamas, como a própria essência que tem, encontrará alguém que substituída imediatamente a responsabilidade que tinha Ismail Haniyeh", conclui Sepideh Radfar.