Afinal porque é que Carlos César, presidente do PS e líder parlamentar socialista, defendeu com unhas e dentes o sector social e das instituições de solidariedade social à saída da Obra Social do Padre Miguel, em Bragança?
Porque é preciso recentrar o discurso e não deixar fugir ninguém em ano de eleições autárquicas. Segundo o próprio César, questionado pela Renascença, é preciso falar para o centro tendo em vista que o PS, “não quer ficar refém de nada, nem de ninguém”.
César garante que não quis criticar ninguém em especial, ou sequer o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, ao ter dito esta manhã em Bragança que “há uma espécie de complexo de esquerda, que também passa um pouco pelo PS e, às vezes, pelo Governo, de que as IPSS são instituições em relação às quais deve haver, em primeiro lugar, reserva e, depois, apoio comedido”. O presidente do PS diz que quando quer criticar alguém que é muito claro.
O que quis dizer então César? Há uns meses um dirigente do partido dizia à Renascença que é preciso agarrar um sector – o da economia social - a que o governo PSD-CDS deu especial atenção. Com o presidente socialista a dizer agora que as IPSS “são absolutamente necessárias ao sistema de protecção e apoio social”.
Hoje foi o dia de falar para o centro e de dar recados sobre esse diálogo para dentro do partido e para a esquerda. Ontem foi a vez de César adoptar o discurso dos parceiros da esquerda – PCP e Bloco de Esquerda – ao falar das desigualdades sociais em que os portugueses ainda vivem, sobretudo no interior do país.
É por isso, admite o próprio Carlos César, que as jornadas parlamentares decorrem em Bragança, o interior do interior. Para mostrar que, apesar do sucesso que representa a saída do procedimento por défice excessivo a esquerda tem de refrear o entusiasmo, numa espécie de gestão de expectativas.
Carlos César gosta de mostrar que a bancada parlamentar que lidera tem autonomia suficiente em relação ao Governo, lançando farpas e recados que noutro seriam vistas como crítica aberta; ao mesmo tempo, sendo presidente do PS, César vê-se no meio de um jogo de equilíbrios que é preciso gerir – ora falando para o centro, ora falando para a esquerda.