“O jornalismo nunca foi tão ameaçado, mas talvez nunca tenha sido tão indispensável à vida das pessoas e das sociedades”, afirmou José Luís Ramos Pinheiro, administrador do Grupo Renascença Multimédia, na cerimónia de entrega do Prémio Jornalismo Jovem, esta quarta-feira, em Lisboa.
No auditório da Renascença, perante os jovens jornalistas premiados, Ramos Pinheiro apontou que, “se não incentivarmos o jornalismo jovem, o jornalismo não terá futuro”.
Destacando a necessidade de “um jornalismo mais forte, que ajuda a construir sociedades mais democráticas e livres”, o responsável da Renascença sublinhou que não se pode “aceitar acriticamente o que se está a passar. É necessário ter discernimento”, referindo que os trabalhos premiados são “excelentes exemplos”.
A distinção instituída pela Renascença e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) premiou quatro jovens jornalistas. São “um talento nacional emergente, com imensa qualidade que precisa deste empurrão”, sublinhou a diretora de comunicação da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), Maria João Matos.
Maria João Matos falou da importância do “apoio ao talento jovem” e referiu que a Santa Casa tem esse “foco estratégico”.
“Através de prémios como este, alcançam um apoio para perseguirem o trabalho”, indicou a responsável da SCML, para quem este prémio “é um empurrar para a frente de jornalismo que pode ser de grande qualidade”.
Premiados: “É quase impossível ser jovem jornalista”
O diretor adjunto de informação da Renascença, Arsénio Reis, que conduziu a cerimónia de entrega dos prémios, destacou "a feliz parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa”.
Segundo Arsénio Reis, as “reportagens premiadas retratam situações que deveriam estar no centro das preocupações” e deu como exemplos, a desertificação e inverno demográfico que se vive em Portugal, a difícil relação dos jovens como a política o fenómeno das redes socias e o que está par alá do que vemos e a reintegração difícil dos jovens que passaram pela prisão”.
O primeiro prémio a ser entregue foi a Menção Honrosa para o jornalista da Renascença Tomás Anjinho Chagas com a reportagem “Prisão: uma mancha que não sai do currículo”.
O diretor geral da Renascença, Pedro Leal, apontou o jovem jornalista como “uma das coisas boas” das contratações da rádio e aproveitou o momento para se referir a todos os trabalhos premiados, distinguindo-os pela sua “simplicidade de pensamento que provoca”.
Sulinhando que se trata de reportagens que “inquietam”, Leal lembrou que o “jornalismo faz parte do processo democrático” e que estes trabalhos “não duram dois dias, provocam a democracia todos os dias”.
Com o prémio na mão, Tomás Anjinho Chagas começou por se apresentar como um jornalista que nasceu no tempo do jornalismo “rápido, digital, do despacha-te” e recordou o seu primeiro trabalho como repórter na “leitura do acórdão final de Tancos”, uma “coisa simples” referiu ironicamente. Perante 200 páginas de sentença, aprendeu com um dos editores da Renascença, o jornalista José Pedro Frazão a “escolher bem, e não rápido”. Embora se reveja como um “jovem habituado ao imediatismo”, concluiu: “Somos jornalistas, não somos pilotos de Fórmula 1."
O Prémio Renascença foi entregue por José Luís Ramos Pinheiro à jornalista Daniela Espírito Santo pelo trabalho“Nos bastidores do TikTok - O trabalho traumático dos moderadores”. Pinheiro sublinhou que este prémio é um apoio a uma causa “nobre”.
No palco, Daniela Espírito Santo agradeceu “às fontes corajosas e aos colegas” que a “aturaram durante seis meses” e referiu-se a si mesma como uma “menininha pobre de Campanhã que jamais sonhou ir para a faculdade, quanto mais ser jornalista numa grande casa como é a Renascença”.
Daniela Espírito Santo deixou um apelo no sentido de continuar a haver estes incentivos ao trabalho de jovens jornalistas.
A reportagem “Ponto de Interseção” emitida na Rádio Voz de Alenquer, de Cláudia Patrício Silva, venceu na categoria Rádio. A vencedora lembrou que “é impossível ser jovem em Portugal”, mas é ainda mais “impossível ser jovem jornalista”.
A repórter evocou a Rádio Voz de Alenquer como uma “escola”. “As rádios locais são importantes para a democracia, estamos mais próximos das pessoas”, apontou Cláudia.
"O jornalismo raramente é um trabalho individual"
Por fim, foi a jornalista Joana Ascensão a subir ao palco com os coautores da reportagem “Filhos Únicos da Terra”, os jornalistas José Cedovim Pinto e Rui Duarte Silva do semanário "Expresso". São vencedores não só do Prémio Multimédia, mas também do Grande Prémio Jornalismo Jovem.
Começando por afirmar que “o jornalismo raramente é um trabalho individual”, Ascensão referiu-se a todos os colaboradores da reportagem que aborda a questão da desertificação do país. “Focámos nos dois problemas demográficos - o abandono do interior e o inverno demográfico - na voz de três crianças que são as únicas que vivem numa aldeia”, contou, mostrando-se “feliz por estes problemas demográficos” poderem ser falados.
O Prémio Jornalismo Jovem foi lançado pela Renascença e pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa em maio de 2022. Teve como objetivo trazer à reflexão da sociedade as dificuldades e as perspetivas de futuro que se colocam às gerações mais novas. O concurso destinou-se a jornalistas com idades até aos 35 anos e a temática dos trabalhos deveria incidir sobre os problemas, desafios e oportunidades que os jovens enfrentam atualmente.
O júri foi composto em representação da Renascença por Pedro Leal, diretor-geral da Renascença, e Alexandre Guerra da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Fizeram também parte do júri, Fernando Zamith, professor auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade do Porto; Luís Santos, professor auxiliar do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho e Ioli Campos, professora auxiliar da Universidade Católica Portuguesa.
Veja aqui alguns dos principais momentos da cerimónia registados em vídeo.