Cerca de dois em cada dez portugueses estão ou em situação de risco de pobreza (com um rendimento inferior a 551€ mensais) ou em privação material e social severa ou vivem em agregados onde se trabalhou em média menos de 20% do tempo de trabalho potencial (intensidade laboral muito reduzida).
O documento do Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza da EAPN Portugal / Rede Europeia Anti-Pobreza, analisa dados de 2022, pelo que a organização chama a atenção para o facto de o Relatório ainda não fazer refletir o momento atual marcado pelo aumento da inflação e do custo de vida.
“Os dados deste relatório não olham para o momento atual e não conseguem espelhar o aumento do custo de vida. Há um empobrecimento da população causado pelo aumento do custo de vida e das taxas de juros que é invisível nos dados oficiais”, pode ler-se no documento a que a Renascença teve acesso.
O Relatório deixa um outro importante alerta: “quanto menor o rendimento do agregado familiar, maior será o peso que os custos com habitação, com energia e com alimentação terão no orçamento familiar”.
No Relatório, a organização destaca ainda que “desde 2015 que o perfil dos grupos mais vulneráveis ao risco de pobreza ou exclusão social pouco ou nada se alterou”, e adianta que em 2022, permanecem como grupos mais vulneráveis os desempregados (60.1%), seguidos de outras pessoas fora do mercado de trabalho.
As mulheres e as famílias com filhos, nomeadamente as famílias monoparentais e as numerosas, são as que acumulam um maior risco de pobreza ou exclusão social e maior risco de pobreza monetária.
Outro grupo que merece destaque é o dos desempregados, com 60.1% dos desempregados em risco de pobreza ou exclusão social.
A organização refere, também, a vulnerabilidade da população empregada. Segundo o inquérito do ano passado 12.2% dos trabalhadores estavam em risco de pobreza ou exclusão social e 10.3% em risco de pobreza monetária. Portugal é o 7.º da União Europeia com maior vulnerabilidade dos trabalhadores nestes dois indicadores.
Neste contexto, a Rede Europeia Anti-Pobreza encara o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza com “um misto de esperança e preocupação”. “Por muito que os números oficiais nos digam que a taxa de risco de pobreza não aumentou sabemos que a situação nacional não é otimista”, refere a organização. Para a EAPN Portugal “medidas como o aumento do salário mínimo nacional, apesar de relevantes, não permitem fazer face às despesas mais básicas das famílias, contribuindo assim para o agravamento do número de trabalhadores pobres que existe em Portugal”.
“A pobreza e a exclusão social são uma negação dos direitos humanos, como o Parlamento expressamente reconheceu em 2008. Assim, é urgente aproveitar a oportunidade que Portugal tem neste momento com a aprovação da Estratégia Nacional de Combate à Pobreza e com todos os financiamentos que se encontram disponíveis por via do Plano de Recuperação e Resiliência e do Portugal 2030”, sublinha a EAPN Portugal.