A nova polémica de Salvini? Fazer um censo dos ciganos e deportar os "não-italianos"
19-06-2018 - 14:40

Proposta foi feita pelo ministro do Interior nem uma semana depois de o também líder da extrema-direita ter impedido o navio humanitário Aquarius de atracar num dos portos de Itália. Vice-primeiro-ministro já rejeitou o plano "inconstitucional".

O ministro do Interior de Itália, Matteo Salvini, que é também líder da extrema-direita, causou nova controvérsia esta semana ao anunciar a sua intenção de levar a cabo um censo à comunidade cigana do país para deportar todos os ciganos "não-italianos". Com as críticas a choverem de imediato, Salvini veio entretanto garantir que o seu único objetivo é proteger as crianças da comunidade.

Existem pelo menos 130 mil ciganos a viver em Itália, muitos em campos improvisados nos arredores da capital, Roma. A sugestão de Salvini, que foi de imediato rejeitada pelo seu parceiro da coligação, surge nem uma semana depois de ter impedido o navio humanitário Aquarius de atracar num dos portos marítimos de Itália, para que os 629 migrantes resgatados por esse navio pudessem receber assistência médica e pedir asilo no país.

Ainda antes de ter chegado ao poder, Salvini já tinha prometido levar a cabo "deportações em massa de migrantes", fixando esse plano nas 500 mil pessoas, ou meio milhão de migrantes. Já depois de a sua Liga ter conseguido formar Governo em parceria com os populistas do MoVimento 5 Estrelas, Salvini prometeu limitar o número de requerentes de asilo que chegam ao país em barcos de resgate operados por organizações não-governamentais, caso do Aquarius, impedindo esses barcos de atracar na costa italiana.

Este fim-de-semana, o Aquarius foi recebido por uma megaoperação em Valência, após o novo Governo espanhol ter indicado que pretende dar asilo a cerca de 100 dos migrantes a bordo dele.

Qual é a proposta de Salvini?

Numa entrevista a uma estação televisiva, o ministro do Interior informou esta terça-feira que pediu às autoridades italianas que "preparem um dossier sobre a questão dos ciganos em Itália porque nada foi feito desde [que o Ministério do Interior era encabeçado por Roberto] Maroni e o caos está instalado".

Para tal, Salvini informou que pretende levar a cabo um inquérito "a que chamamos censo" para perceber "quem são, como vivem, quantos existem", reunindo as informações "numa base de dados". O objetivo, explicou, é perceber que ciganos não podem estar em Itália e deportá-los. "Quanto aos ciganos italianos", acrescentou, "infelizmente temos de os manter cá".

Em resposta a isto, Luigi di Maio, que lidera o outro partido da coligação e que ocupa o cargo de vice-primeiro-ministro, garantiu aos jornalistas que não haverá qualquer base de dados sobre os ciganos que vivem em Itália, deixando claro que levar a cabo esse censo é "inconstitucional".

A sociedade civil também parece estar mobilizada contra o alegado plano de Salvini, com uma associação que defende os direitos do povo cigano a ressaltar imediatamente que qualquer censo com base na herança étnica das pessoas vai contra a legislação italiana em vigor. A oposição parlamentar também já se manifestou contra a ideia e uma organização judaica já traçou um paralelismo entre o plano e as leis raciais de 1938 aprovadas pelo ditador fascista Benito Mussolini.

Uma das reações de maior peso, contudo, veio da parte do Presidente de Itália, que no Twitter condenou as políticas anti-imigração do novo Governo. "Ontem refugiados, hoje ciganos, amanhã armas para todos. Quão exaustivo é ser mau", escreveu Paolo Gentiloni.

Face ao criticismo, o líder da extrema-direita veio garantir que a sua proposta não é criar uma base de dados dos ciganos. O argumento? Que não serão recolhidas impressões digitais e que se limitará a fazer um censo dos ciganos para proteger as milhares de crianças da comunidade.

Di Maio reagiu com algum alívio à aparente clarificação e disse-se satisfeito com o facto de o ministro do Interior ter rejeitado os planos por ele apresentados. "Se algo for inconstitucional, não pode ser feito", sublinhou o líder populista.