Os produtores de bovinos de raça mirandesa estão apreensivos com as consequências da seca no setor. As sementeiras correram mal, escasseia o alimento para o gado e o futuro é uma incógnita.
O ano passado não houve forragens em quantidade suficiente e as explorações agrícolas estão a ressentir-se desse problema, o que está a afetar todas as explorações pecuárias do Nordeste Transmontano.
O secretário técnico da Associação de Produtores de Bovinos de Raça Mirandesa (ACRBM), Válter Raposo, traça um retrato negro para o setor, revelando que “estamos perante uma situação alarmante que passa pela falta de pasto nos lameiros”.
“As sementeiras correram muito mal, muitas delas nem sequer rebentaram e os produtores estão a recorrer a suplementos alimentares para os animais”, acrescenta.
O técnico afirma que o “futuro é uma incógnita” e teme que, se não chover nos próximos tempos, “os pastos poderão não rebentar”, referindo que as “culturas de sequeiro estão muito atrasadas”.
Para já, alguns produtores estão às recorrer às reservas de outros anos e outros estão a comprar forragens e palha, principalmente na vizinha Espanha, a preços muito altos.
Válter Raposo sublinha que os alimentos para animais encarecerem muito e dá como exemplo a “palha que está ao dobro dos preços praticados no ano passado”.
A médio prazo, a falta de alimento provocado pela seca poderá “ter consequências na reprodução dos animais e comprometer o efetivo de uma raça que já esteve ameaçada de extinção”, alerta o secretário técnico da ACRBM.
O Solar dos Bovinos de Raça Mirandesa está confinado aos concelhos Miranda do Douro, Vimioso, Mogadouro, Bragança, Vinhais e Macedo de Cavaleiros.
Pastores vendem animais por falta de alimento
Há pastores a vender animais das explorações por falta de alimento, devido à seca. O alerta é da Associação Nacional de Criadores Ovinos de Raça Churra Mirandesa.
Andrea Cortinhas, a secretária técnica da associação, revela que “os pastores estão a vender, mais cedo do que o habitual, os cordeiros, para evitar gastos acrescidos com os fatores de produção, em consequência da seca”.
Segundo a técnica, a seca, nos concelhos do Planalto Mirandês, apresenta-se mais “severa” quando comparada com a que se regista em outras regiões transmontanas.
Aqui “os lameiros estão quase tão secos como em setembro, o que leva à escassez de alimento para o gado ovino, as reservas de água estão muito em baixo para esta altura do ano e as forragens nos estábulos estão a esgotar, o que deixa os produtores apreensivos”, acrescenta Andrea Cortinhas.
Uma situação “deveras preocupante” sobretudo porque “já se está a verificar um decréscimo do efetivo dos animais inscritos no Livro Genealógico”, que tem por fim assegurar a pureza da raça, concorrer para o seu progresso genético e favorecer a criação e difusão de bons reprodutores.
“Receio que continuemos com este decréscimo, acentuado do efetivo, até a situação estar normalizada”, conclui a secretária técnica da Associação Nacional de Criadores Ovinos de Raça Churra Mirandesa.