Está confirmado o impacto negativo da pandemia de covid-19 na prestação de cuidados do cancro em 2020, segundo o Registo Oncológico Nacional.
As previsões para 2020 - ano fortemente marcado pela pandemia - apontavam para 60.000 a 65.000 o número de novos casos de cancro, tendo sido registados 52.723, menos 9% o que em 2019, e uma diferença de 15 a 24% em relação ao previsto.
Para Henrique Raposo, comentador d'As Três da Manhã, esta realidade é retratada no "excesso de mortalidade gigantesco que nós temos em Portugal, em 2022 foram quinze mil pessoas a mais do que o previsto que morreram"
"Este janeiro está a ser um desastre, só é superado pelo janeiro da pandemia, de 2021. As infeções respiratórias não explicam por que é que pessoas de quarenta anos, cinquenta, estão a morrer tanto, muito acima do do normal. Têm de ser outras doenças", afirma.
Maria José Bento, diretora do serviço de Epidemiologia do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, mostrou-se preocupada com os atrasos no diagnóstico e no tratamento, algo que, disse, "deverá ter expressão nos dados de 2021 ou 2022, traduzindo-se em mais morbilidade e mortalidade" por cancro, apontando a culpa à "interrupção dos rastreios".
Perante estas conclusões, o comentador considera que a "gestão da pandemia em Portugal foi desastrosa, porque se esqueceram todas as outras doenças".
Para o comentador, é importante "refletir sobre os erros que foram cometidos" porque afirma que "vamos ter novamente pandemias" e a "globalização não vai parar".
Raposo critica também o caso de crianças com necessidades educativas especiais, considerando que foram "arrasados", por terem visto as suas necessidades sem resposta durante dois anos.
Sobre o facto de a saúde mental continuar a ser esquecida nos discursos dos diferentes partidos, à porta de eleições, Henrique Raposo considera que é algo "desastroso".
"Temos problemas gravíssimos até na juventude. Temos indicadores de depressão, ansiedade e suicídio. Até nos jovens, até nas miúdas que historicamente estavam afastadas dessas questões do suicídio e ninguém tem uma resposta para isso. As escolas não têm, os hospitais não têm", conclui.
Há cerca de 20 mil doentes à espera de uma consulta de saúde mental e que cerca de metade dos casos prioritários (1.600) esperam mais do que o tempo previsto na lei (60 dias), segundo um estudo realizado pela Entidade Reguladora da Saúde.