Bolieiro vence, mas coligação de direita não consegue maioria absoluta
04-02-2024 - 19:56
 • Tomás Anjinho Chagas(nos Açores), Ana Kotowicz

PSD elegeu 26 deputados e fica dependente do Chega que conseguiu 5 assentos no parlamento regional.

A coligação PSD/CDS/PPM venceu as eleições nos Açores, mas não chegou à maioria absoluta: José Manuel Bolieiro é o grande vencedor das eleições açorianas, com 26 deputados eleitos - a três da maioria absoluta e mais 5 do que em 2020. A coligação de direita conseguiu 42,08% dos votos para a Assembleia Legislativa Regional e Bolieiro garante que governará com maioria relativa.

O PS/Açores de Vasco Cordeiro, que assumiu ter ficado aquém das expetativas, obteve 35,91% dos votos e elege 23 deputados (teve 25 em 2020). O Chega, terceira força política, alcançou 9,19% dos votos e mais do que dobrou os deputados em relação a 2020: passa de dois assentos para cinco. Um deputado é o saldo final para Bloco de Esquerda, Iniciativa Liberal e PAN.

No rescaldo dos resultados, André Ventura, um dos primeiros a falar, propôs de imediato um acordo de governo entre o Chega e a Aliança Democrática, dizendo que as negociações podem começar já na noite de domingo. "Haverá uma maioria clara entre AD e Chega e essa maioria clara de deputados no parlamento em princípio permitirá, ainda não sabemos se com outra força ou só exclusivamente estas duas forças, afastar o PS do poder", declarou o líder do Chega.

Já Vasco Cordeiro, o candidato socialista, reconheceu a derrota. “Fiquei aquém dos resultados eleitorais que tinha fixado como objetivo”, disse o líder do PS/Açores. “Os resultados são claros e evidentes na demonstração de que a minha candidatura não alcançou o sucesso a que me propus”. Questionado pelos jornalistas sobre se o seu partido irá viabilizar um governo minoritário do PSD, Vasco Cordeiro escusou-se a responder. “Todas essas questões terão o seu lugar próprio, a seu tempo. Não é este o local nem a hora”.

Pouco depois, foi Pedro Nuno Santos quem falou. "Hoje perdemos", disse o secretário-geral do PS.

Bolieiro diz que governará "com maioria relativa"

O futuro do governo regional é claro para José Manuel Bolieiro: a coligação vencedora governará "com uma maioria relativa".

"Conseguimos uma vitória de forma inequívoca em seis ilhas. Isto é significativo e não deixa margem para dúvidas quanto ao apoio que a minha governação aqui justificou", frisou o líder do PSD Açores, no discurso de vitória, ao lado de Luís Montenegro.

"Preferia uma maioria estável de governação e uma maioria parlamentar absoluta. Sempre disse que o soberano é o povo e eu cumpriria a soberania do povo. Continuo a achar que o povo através da personalização desta candidatura, entre mim e Vasco Cordeiro, foi inequívoca a vontade do povo para que eu continuasse a ser presidente do governo", concluiu Bolieiro.

Ao seu lado, o líder do PSD/Açores tinha Luís Montenegro, que falou antes do "homem da noite". Além de considerar que o se passou nos Açores "é uma inspiração" para as legislativas de 10 de março, Montenegro frisou que Bolieiro conseguiu uma vitória que não alcançavam "há 32 anos”.

Noite começou com festa no PSD. Açorianos "não querem governo socialista"

Horas antes de terem consagrado a vitória, já as projeções apontavam para que a coligação de direita saísse vencedora. Falhou num pormenor: a maioria absoluta não se confirmou. No momento em que saíram os resultados das primeiras projeções começaram a ouvir-se festejos na sede do PSD, em Ponta Delgada. "Bolieiro, Bolieiro, Bolieiro!", gritavam os militantes do PSD/Açores.

Multiplicaram-se os abraços dos presentes, que aguardam a chegada do atual presidente do Governo Regional. A primeira reação dos social-democratas foi transmitida pelo secretário-geral do PSD/Açores, Luís Pereira, que assinalou a vitória dos laranjas, apesar de assinalar que se tratava ainda de uma projeção.

"Continuamos convictos de que teremos esta noite uma oportunidade de celebração, de reconhecimento do trabalho que ficou a meio. A acreditar nos resultados desta projeção, desta sondagem, reforçando que estamos a falar de uma sondagem, os açorianos voltaram a dizer que disseram em 2020: não querem um governo socialista", afirmou Luís Pereira.

"Tudo em aberto" para o PS/Açores

A primeira reação dos socialistas foi de Berto Messias, vice-presidente do PS/Açores, que, apesar de não ver nos números um bom presságio - como se veio a confirmar - sublinhou que a noite eleitoral ainda estava no início.

“Os números são muito claros e não vou estar aqui a ser hipócrita, a dizer que aquilo que está nesta sondagem é tendencialmente positivo para o PS. Não seria correto afirmá-lo", começou por dizer Berto Messias.

"No entanto, se avaliarmos quer os intervalos definidos, quer aquilo que é dito em relação aos partidos mais pequenos, quer até os intervalos que resultam desta sondagem da coligação, quer o facto de termos ainda muitas outras ilhas que têm influência direta e relevante neste resultados, como é o caso das chamadas ilhas ímpares, ou seja, as que elegem deputados em número ímpar, parece-nos que está tudo ainda em aberto e que é prematuro tirar conclusões sobre aquilo que acontecerá no final desta noite”, sublinhou o dirigente socialista.

“Uma grande vitória” para o Chega

Foi com euforia que o Chega/Açores recebeu as projeções da noite eleitoral. "Quem sai vitorioso é definitivamente o Chega”, disse Olivéria Santos, que falava aos jornalistas nas instalações dos Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada.

“Isto só pode ser considerado uma grande vitória, uma estrondosa vitória para o Chega esta noite", defendeu a secretária-geral da estrutura regional do partido. Para Oliveira Santos os resultados da noite eleitoral, caso se confirmem as projeções (e confirmaram)(, resultam “de um trabalho árduo de três anos que o Chega fez na rua com as pessoas, falando com elas, percebendo quais eram os seus problemas, as suas ansiedades, e percebendo aquilo que os açorianos queriam."

A eleição de quatro deputados era o mínimo que esperava para esta noite e os açorianos mostraram que "querem uma diferença, querem uma limpeza". Essa, disse, é a proposta do partido, para "transformar os Açores". No final da noite, o Chega foi além dos quatro deputados e conseguiu cinco assentos.

Em 2020, elegeu dois deputados.

À espera dos resultados finais

"Vamos ter de aguardar.” Foi com estas palavras que o Bloco de Esquerda, através de José Cascalho, reagiu aos primeiros resultados da noite eleitoral nos Açores. O partido vai esperar “serenamente” pelo desfecho da noite.

“Como sabem, os partidos com menos votação têm muitas vezes de aguardar para perceber o resultado que efetivamente têm. Isto ainda é uma projeção e não sabemos efetivamente qual é que será o resultado", disse o mandatário de campanha do BE/Açores aos jornalistas, num hotel de Ponta Delgada, São Miguel. No final, os votos dos açorianos deram um deputado aos bloquistas.

"Os resultados não são muito bons, na nossa opinião, para os Açores, porque tudo indica para uma maioria de direita, com as mesmas políticas. Portanto, uma situação complicada para os Açores", considerou José Cascalho. "Vamos aguardar, sabemos que é difícil, porque aquilo que se projeta é de facto uma viragem à direita forte."

"Tal como em 2020, nada está perdido”, disse Alexandra Cunha, da Iniciativa Liberal/Açores, em declarações à RTP Açores, sublinhando ser necessário esperar até que o último voto seja contado. “Iremos esperar com serenidade, nada está perdido. Em 2020, foi tal e qual desta forma e no final fizemos a nossa festa." Tal como os bloquistas, também a IL garantiu um lugar na assembleia regional.

Entre a CDU, o espírito era o mesmo. "Estamos confiantes que é possível elegermos um deputado”, afirmou Marco Varela, coordenador regional do PCP/Açores, à mesma televisão, frisando que o partido vê com “preocupação” a possibilidade de haver uma maioria de direita. Não se confirmou e a CDU não conseguiu eleger nenhum deputado.

Já o PAN, pela voz de Dinarte Pimentel, estava confiante num bom resultado e na manutenção de um deputado regional. "Os resultados são favoráveis. Aguardamos com expectativa os resultados reais." Assim foi: este domingo, o PAN repetiu o resultado de 2020.