“Subir salário mínimo sem aumentar produtividade traz problemas no futuro”
21-06-2016 - 09:25

Chefe da missão do Fundo Monetário Internacional defende mais reformas e que os desempregados devem ser ouvidos sobre políticas laborais.

O chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Portugal defende mais reformas no mercado de trabalho. Subir Lall reconhece que as mudanças feitas ajudaram a economia, mas diz que ainda há trabalho a fazer.

"As reformas são um processo constante, nunca existe um fim. Muitas já foram feitas - estamos muito satisfeitos - e acreditamos que claramente ajudou a economia. Mas muitos dos desequilíbrios da economia portuguesa acumularem-se durante muito tempo e vai demorar até que acabem as reformas…é um trabalho em curso", disse.

Subir Lall está em Lisboa para a quarta missão de monitorização pós-programa de assistência, que se iniciou na semana passada, sendo que, desta vez, os trabalhos da revisão regular coincidem com a análise à economia no âmbito do Artigo IV do FMI, que prevê avaliações periódicas às economias que integram o Fundo.

O chefe da missão afirmou que o mercado de trabalho é uma parte importante do ajustamento de uma economia, mas alertou para o risco de se procurar "resolver todos os problemas" através do mercado de trabalho.

Recordando que, durante o programa de resgate, o salário mínimo nacional de Portugal esteve congelado, Subir Lall disse que "subi-lo sem aumentar a produtividade traz problemas para o futuro".

"Claro que é preciso impedir que a desigualdade aumente demasiado. Como é que se aumentam os salários? Aumentando a procura, não é aumentando o salário. Se estão preocupados com a desigualdade e com a pobreza, têm de se preocupar com os desempregados", defendeu.

Desempregados devem ser ouvidos

Subir Lall participou, na segunda-feira, numa conferência sobre a desigualdade salarial na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina, organizada em Lisboa pela Universidade Nova, onde afirmou que "os desempregados também devem ser integrados" no diálogo social, sublinhando que "há muitos que não estão nos sindicatos".

No final da conferência, disse aos jornalistas que, "em termos de mecânica, é algo que tem de ser discutido", mas considerou que esta discussão deve ser feita a nível nacional.

"Na Europa, por exemplo, estão a considerar [criar] um conselho nacional de competitividade que represente toda a gente. Mas, claramente, isso tem de ser definido a nível nacional [porque] o que funciona num país pode não funcionar noutro", disse.

O economista do Fundo entende que, "se há políticas que afectam toda a força de trabalho e toda a gente que a compõe, então [os desempregados] devem estar representados nas discussões porque em última instância essas políticas também os afectam".

Afirmando que "ser inclusivo e transparente é sempre bom", Subir Lall deu ainda um outro argumento para ouvir os desempregados quanto às políticas do mercado de trabalho: "É um Governo democraticamente eleito apesar de tudo, representa toda a gente".